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Famoso quadro de Goya é falso, dizem especialistas

Autoria de 'O Colosso', ainda desconhecida, poderia ser de um colaborador do pintor.

Por Anelise Infante
Atualização:

Restauradores do Museu do Prado, em Madri, afirmaram nesta quinta-feira que o famoso quadro O Colosso, de autoria originalmente atribuída ao pintor Francisco Goya, não é uma obra do artista espanhol. Durante quase 80 anos, o quadro esteve exposto em lugar de destaque no museu e era considerado uma das jóias da coroa espanhola. No entanto, um evento realizado no início desse ano reuniu vários especialistas e restauradores para analisar o quadro, já que apresentava traços estilísticos e inscrições pouco comuns às obras do pintor. A confusão ocorreu pela falta de assinatura em diversos quadros do pintor, que viveu entre 1746 e 1828. Em uma entrevista coletiva em Madri, os chefes de conservação do Museu confirmaram o engano com relação à autoria da obra de arte. Segundo eles, a autoria ainda é desconhecida, mas provavelmente seria do espanhol Asensio Juliá, único discípulo do mestre barroco. "Em minha opinião é um quadro assinado e feito por um artista diferente de Goya. Notamos que há outra mão ali e é distinta", afirmou a Diretora de Conservação de Pintura do século XVIII do Museu do Prado e especialista em Goya, Manuela Mena. Colosso As primeiras referências bibliográficas sobre O Colosso apareceram no inventário do artista feito pelo filho dele, Javier Goya, e que depois passaram ao colecionador espanhol Pedro Durán. O Colosso representa um gigante enfurecido que ameaça uma cidade e foi considerado uma das obras mais representativas da produção de Goya sobre a guerra da independência de Madri de 1808, quando a cidade se rebelou contra a invasão napoleônica. A celebração do bicentenário desta independência acabou levantando as suspeitas sobre a autoria do quadro. Em janeiro, o Museu do Prado convocou especialistas internacionais em Goya para um inventário e uma mesa de debate que antecederam a exposição Goya em tempos de guerra, inaugurada em abril e que permanece aberta ao público. A diretora de conservação Manuela Mena, comentou que "as dúvidas eram históricas e o mais prudente seria eliminar o quadro da mostra sobre a guerra e investigar a autoria. Isso já havia acontecido em 1991 antes da exposição Goya, o capricho e a invenção, quando diante da mesma dúvida, afastamos a obra". Nas primeiras investigações o historiador britânico Nigel Glendinning encontrou a inscrição "XVIII" na esquina inferior esquerda do quadro, que coincide com a referência de "um gigante" que aparece no inventário de Goya de 1812. Já o Chefe de Conservação do museu, José Luis Díez, afirmou que a inscrição é outra, que não estaria relacionada no inventário. Em vez dos algarismos romanos o registro seria das iniciais J.A. O quadro foi pintado entre 1808 e 1812 e a inscrição final está quase apagada. "Mas o que nos chamou mais atenção foi a diferença de traços estilísticos", comentou Mena. O diretor geral do Museu do Prado, Miguel Zugaza disse que O Colosso permanecerá na sala original onde está desde 1931 dentro do pavilhão dedicado a Goya, até que a autoria correta seja esclarecida. Asensio Juliá, nascido em 1760, foi um dos poucos colaboradores de Goya. Os principais registros da atuação dele com o mestre do classicismo estão nos afrescos da igreja de Santo Antonio da Florida, em Madri. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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