Família Brasil Na água

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Por Redação
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Toda a nossa vida passa diante dos nossos olhos quando estamos nos afogando. É verdade. Vários relatos de quase-afogados confirmam isto. Você se lembra de estar no ventre da sua mãe, flutuando dentro da bolsa d'água. Dizem que do momento da concepção até o parto o homem recria no ventre materno toda a evolução da sua espécie. O espermatozoide que chega ao óvulo é como aquela primeira ameba que flutuava no mar primevo, recebeu uma descarga elétrica e começou a se reproduzir e a evoluir e milhões de anos depois deu na Patrícia Pillar. A vida começou no mar. O homem é um fruto do mar. Ainda temos no sangue restos de água salgada. E o feto de muitos peixes é igual ao feto do homem. Até o seu segundo mês de vida, nada está decidido. Você tanto pode ser um peixe quanto uma pessoa. Um linguado ou um advogado. Imagine a cara do seu pai, no caso de alguma confusão genética, quando lhe anunciassem: "Parabéns, é um golfinho".***O parto, o rompimento da bolsa d'água, é a nossa chegada à Terra. A ameba já transformada em réptil. E a partir daí você lembra de tudo. Do seu primeiro banho. Das primeiras fraldas. Da água benta do seu batismo. E mais: de toda a memória aquática da humanidade. Os descobrimentos, os grandes naufrágios. A passagem das tribos de Israel pelo Mar Vermelho. O Dilúvio. Moby Dick. O Príncipe Submarino. O Capitão Nemo. A Esther Williams. Você se lembra de andar de quatro, depois andar ereto, e de virar um aquário sobre a sua própria cabeça com peixinho e tudo. Lembra da vez que caiu no chafariz da praça. Da primeira vez que viu um rio. Do primeiro xixi na piscina. E da primeira vez que viu o mar. E ficou paralisado na frente do mar, que parecia uma coisa viva. Até então, a maior coisa viva que você conhecia era o seu tio Afonsão, e o mar era maior do que seu tio Afonsão.***Ex-quase-afogados contam que a gente se lembra das coisas mais incríveis quando toda a nossa vida passa diante dos nossos olhos. Um se lembrou de onde tinha guardado uma boina basca que comprara numa viagem à Europa. Outros se lembravam de números de telefone. Outro de cenas de filmes. Outro de trechos de música. Teve um que se lembrou de toda a letra do Cha-cha-cha de la Secretaria. E um, que quase não se salvou, queixou-se porque tinha revivido toda a sua infância e adolescência, lembrando-se de tudo, até do nome do cachorro do Vigilante Rodoviário - menos das suas aulas de natação. Barro. (Da série Poesia numa Hora Destas?!)Nada se comparavaa andar de pés descalços no barro.Que sarro!Por mais que pela memóriaeu puxenão consigo me lembrarde algo melhordo que o barro entre os dedosfazendo "escuche"

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