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Faltou poção mágica para dar liga a filmes de Asterix

Adaptações contam com elenco milionário e talentoso, mas excesso de efeitos especiais apagou humor original

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Asterix no cinema pode ser dividido em duas partes: os desenhos animados, que contam com os traços da história em quadrinhos originais, e os filmes em que os personagens são interpretados por atores de carne e osso (disponíveis em DVD). No caso, muito mais carne do que osso, já que quem se notabilizou pelo personagem Obelix foi Gérard Depardieu, um dos grandes senão o maior dos atores franceses contemporâneos, mas cuja silhueta há muito nada tem de discreta.

 

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Nos filmes, Depardieu fez dupla com Christian Clavier no papel de Asterix, depois substituído por Clovis Cornillac. Foram curiosas as reações a essas três adaptações das histórias de Goscinny e Uderzo para o cinema. A curiosidade era geral, não apenas entre os fãs das histórias em quadrinhos mas entre todos os cinéfilos, muito por conta de Depardieu. Esperava-se - como de fato sucedeu - que o seu personagem, Obelix, botaria no bolso o astuto Asterix, que dá nome à série porém não parece tão carismático quanto seu amigo gordo, glutão e que não precisa da poção mágica para ser poderoso porque caiu no caldeirão quando criança.

 

Acontece que, por um desses maliciosos mistérios do cinema, o encanto do desenho chega desfocado às telas. Não se pode culpar Depardieu, que afinal é ator de recursos, inclusive para a comédia, no entanto não consegue ser engraçado com roteiros fracos. E nem ele conseguiu escapar ao peso dessas superproduções muito carregadas, inclusive do ponto de vista financeiro, e que acabam se privando da sutileza do original.

 

A primeira delas, Asterix e Obelix Contra César, tinha não apenas Clavier e Depardieu nos papéis principais como o cômico italiano Roberto Benigni como o imperador romano. Na época, 1999, a produção foi vista como afirmação do modelo francês contra a hegemonia do produto cinematográfico norte-americano, que ameaçava cinematografias de todos os países, e da própria França, protegida pelo Estado.

 

O sucesso do filme tornou-se questão de honra e críticos que fizeram restrições foram tachados de impatrióticos. Apesar da boa bilheteria local, não repetiu o sucesso no exterior nem deixou saudades. O que houve? Os produtores decidiram enfrentar os americanos no terreno destes e sobrecarregaram o filme de efeitos especiais. Não funcionou, e perdeu-se o humor original. Faltou a boa e velha poção mágica gaulesa para dar liga ao conjunto. O mesmo problema se repetiu nos filmes seguintes.

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