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Falabella leva Carmen Miranda ao teatro

South American Way contrapõe a cantora e atriz bem-sucedida internacionalmente à mulher solitária e infeliz no amor

Por Agencia Estado
Atualização:

Carmen Miranda foi tomada por um choro compulsivo quando, em 1932, ouviu de uma cartomante que morreria dali a três anos. A cantora estava com 23 e, naquele dia, visitava o zoológico ao lado de um amigo, Sinval. A história mostrou que não só a previsão estava errada (ela viveria outros 23 anos até morrer por causa de um colapso) como Carmen, já consagrada, se transformaria em um ícone brasileiro. É sobre a trajetória da vendedora de chapéus que se tornou estrela em Hollywood que trata o musical South American Way, que estréia nesta sexta-feira, no teatro Procópio Ferreira. Conhecida como a Pequena Notável, Carmen Miranda tornou-se um fenômeno logo no início da carreira, nos anos 30, quando vendeu astronômicos 35 mil discos 78 rotações da marchinha Pra Você Gostar de Mim (mais conhecida por "Taí"), de Joubert de Carvalho. Dona de um registro de meio-soprano de curta extensão, Carmem logo descobriu como compensar deficiências - incluindo a altura, de 1,53 m - com uma exuberância nos gestos e figurinos. O brilho do sucesso, porém, contrastava com sua triste e solitária vida íntima. "O espetáculo trata de um grande limbo", comenta Miguel Falabella, responsável pela direção e pela autoria do texto, em parceria com Maria Carmen Barbosa. "Por um lado, existe a Carmen das canções alegres e, de outro, a mulher solitária, que não conseguiu ser feliz ao lado de um homem." Para solucionar dramaturgicamente esse contraste, os autores optaram pela duplicidade, colocando duas Carmens em cena: primeiro, a menina Maria do Carmo Miranda da Cunha, portuguesa de Marco de Canavezes, criada no centro do Rio, em plena Praça 15, interpretada por Soraya Ravenle; em seguida, surge a cantora que atingiu o apogeu artístico nos Estados Unidos como Carmen Miranda, personagem vivido por Stella Miranda. "São duas faces de uma mesma mulher", comenta Falabella, que recriou também o personagem da cigana, funcionando como uma espécie de terceira Carmen, a do sortilégio. "Elas se questionam o tempo todo." O espetáculo começa justamente em 1955, quando a Pequena Notável, aos 46 anos, tombou em sua casa, em Beverly Hills. "A peça tem início com a explosão cerebral que ocorreu no exato momento em que ela caiu, com o espelho nas mãos, vítima de um coração cansado demais", explica Falabella, que pretendeu traçar um painel do Brasil do começo do século passado, um país que vivia embalado pelo sonho do progresso galopante (representado pela Carmen jovem), mas que logo descobriu a frustração de enfrentar uma realidade mais implacável (correspondente à fase final de sua carreira). "Não tínhamos intenção de fazer apenas uma biografia, mas, além de provocar uma discussão sobre o Brasil, queríamos tentar resgatar a auto-estima do nosso povo." A amargura, porém, não é a marca principal de South American Way - Maria Carmen e Falabella criaram um espetáculo que esbanja luxo, brilho e musicalidade. "Nossa inspiração foram os filmes musicais da Fox dos anos 40, estrelados pela própria Carmen, que exibia um figurino exuberante", conta o diretor, que levou dois anos para chegar ao texto final. "Nosso grande desafio era criar um texto que se sustentasse e unisse naturalmente as músicas, que são uma das grandes atrações do espetáculo." À frente de um elenco de 19 atores, Stella Miranda e Soraya Ravenle, além de incorporarem Carmen Miranda em fases distintas de sua vida, interpretam clássicos da música popular brasileira como Adeus Batucada, O Que É que a Baiana Tem?, Tico-Tico no Fubá, entre outros, todos executados ao vivo por músicos que recriam o conjunto Bando da Lua. "Além de bela voz, elas têm um timbre semelhante, o que garante a unidade nos papéis", comenta Falabella. Para garantir a tropicalidade típica da Brazilian Bombshell, Renato Lage e Márcia Lávia criaram cenários inspirados nos palcos suntuosos da Broadway. A marca registrada de Carmen Miranda, porém, é um dos principais atrativos do musical: seus esplendorosos figurinos. Para alcançar a fidelidade necessária, o figurinista Cláudio Tovar fez uma vasta pesquisa, que consumiu o mesmo tempo de criação do texto. "Fui o primeiro a ser convidado a participar do projeto", conta ele, responsável por aproxidamente 200 figurinos utilizados pelo elenco. Bananas - A primeira medida foi rever os 14 filmes estrelados por Carmen, em busca de detalhes em seus figurinos. "Ela sabia exatamente o que vestir e, apesar do aparente exagero, tudo era muito bem dosado", comenta Tovar, observando que até o número de bananas que figuravam na cabeça da cantora era praticamente o mesmo. A pesquisa, aliás, permitiu descobrir detalhes importantes, como o modelo dos sapatos - para compensar a baixa estatura, Carmen Miranda usava verdadeiras plataformas e Tovar notou que, a partir de um determinado momento, quando já era famosa em Hollywood, ela passou a usar o mesmo modelo. "Provavelmente era o mais confortável e o que mais lhe agradava", comenta o figurinista, que optou pelo mesmo calçado. Em seguida, Tovar saiu à caça dos vestuários e encontrou um valioso material no guarda-roupa de Dercy Gonçalves, que decidiu se desfazer de alguns de seus figurinos. "Ela me passou também informações preciosas sobre a Carmen, especialmente sobre a forma como ela surgiu em cena, brilhando como uma verdadeira chama." Disposto a não apenas copiar os modelos utilizados pela cantora, Tovar decidiu criar figurinos especiais, como o de sereia e índia. "Como me sinto seguro sobre a forma com que Carmen se vestia, desenhei modelos que ela provavelmente utilizaria hoje", explica o figurinista, que usou materiais distintos nas confecções, desde cristal e tecidos importados até pequenas reproduções do bumba-meu-boi do Maranhão. Serviço - South American Way - Carmen Miranda,O Musical. De Miguel Falabella e Maria Carmen Barbosa. Direção Miguel Falabella. Duração: 2h10 (com 15 minutos de intervalo).De quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 18 horas. De R$ 35,00 a R$ 80 00. Teatro Procópio Ferreira.Rua Augusta, 2.823, São Paulo, tel. 3082-2409 e 3083-4475. Patrocínio: Petroquisa

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