Fábrica centenária de Itu será recuperada

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Por Agencia Estado
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Um gato vadio - qual gato não é vadio? - usa uma velha tábua estirada entre a parte velha (construída em taipa, em 1869, por escravos) e a parte "nova" (erguida em 1888, pós-Abolição) do antigo casarão como sua passarela particular. Velhas máquinas inglesas da Platt Brothers & Co acumulam poeira num canto. Telhas quebradas, um soalho que se rompe sob os pés e pilhas de detrito e móveis velhos completam o cenário. A antiga Fábrica São Luiz, em Itu (cerca de 100 quilômetros de São Paulo), um dos primeiros exemplares da revolução industrial no País, tem sido um desses casos de patrimônio histórico muito estimado e muito malcuidado. Mas finalmente teve um projeto de restauro e recuperação econômica aprovado pelo Condephaat e será reerguida, transformando-se num centro de lazer e cultura no centro de Itu. Fábrica a vapor, produzia tecidos até 1982, quando fechou de vez suas atividades comerciais. Tem 4 mil metros quadrados de área, dois pavimentos e é um conjunto impressionante. A velha caldeira, que está intacta no coração do prédio, é de fabricação nacional. O maquinário inglês é tão raro que já foi requisitado pelo British Council para integrar uma exposição sobre a presença inglesa no Brasil. "A gente costumava brincar aqui, os funcionários nos tratavam a pão-de-ló", diz Maria Cristina Pacheco e Silva, uma das filhas de Eduardo Pacheco, o proprietário da fábrica, enquanto caminha pelo saguão do primeiro andar, cujas janelas se abrem para uma bela praça na rua. A família está há 113 anos na condução do edifício. Deverá permanecer, associando-se com a iniciativa privada para ativar o novo centro de lazer. Pelo projeto, haverá salas de exposições, livrarias e cafés no local. A Confeitaria Colombo, do Rio, demonstrou interesse em abrir uma franquia. Mas foi o pessoal de Itu que se mexeu primeiro. Herbert Steiner, proprietário do tradicional e também centenário restaurante Alemão, no centro da cidade, já entrou no negócio. Projetou uma choperia com pista de dança na parte dos fundos do velho edifício, um empreendimento que vai lhe custar R$ 1,5 milhão. Para fazer o projeto do restauro, a família Pacheco tenta uma solução ousada. Foi em busca do Projeto Oficina-Escola de Artes e Ofícios, um programa de formação de mão-de-obra em cidades históricas que surgiu em Ouro Preto há alguns anos e espraiou-se por Vitória (ES), Santana do Parnaíba (SP) e outras cidades brasileiras. "Em Santana do Paranaíba, nós temos dois contra-mestres, dois mestres e 26 aprendizes, garotos carentes da comunidade, trabalhando na restauração de prédios históricos", diz o arquiteto Eduardo Glicério, em Itu para examinar a velha fábrica. Segundo Glicério, a vantagem de se utilizar os garotos do Projeto Oficina-Escola é dupla: além de ajudar a formar uma mão-de-obra especializada nas cidades históricas, o programa serve ao processo de aprendizado dos meninos. "Assim que terminarmos a reforma, traremos de volta a imagem de São Luís Gonzaga que ficava ali no nicho", diz Eduardo Pacheco, o patriarca da família. Ele conta que, quando morreu seu pai, a família chegou a pensar em desfazer-se da fábrica, mas ele acabou adquirindo os direitos dos irmãos sobre o prédio e quer mantê-lo. A velha Fábrica São Luiz faz parte do belo e variado conjunto histórico de Itu, que inclui igrejas, sobrados, fazendas, casarões e edifícios públicos. Alguns já desapareceram, como o Hospital dos Lázaros, de 1808, demolido no início do século 20. Hoje, só se mostra por meio de uma aquarela do pintor Miguel Dutra. Todo o conjunto arquitetônico é tombado pelo Condephaat, mas poucos estão em bom estado. A cidade tem 391 anos e possui extensa galeria de personagens históricos. No centro da cidade está localizado o Museu Republicano, que ocupa o casarão que abrigou, em abril de 1873, a célebre convenção do Partido Republicano Paulista, movimento que culminou com a Proclamação da República.

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