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Exposição une contos dos irmãos Grimm ao universo do cordel

Curadora estabelece relações entre clássicos da literatura infantil com a poesia popular

Por Bia Reis
Atualização:

Trancada no alto de uma torre desde os 12 anos, Rapunzel é banida para o deserto quando a fada descobre que a moça esperava gêmeos. João e Maria, após se livrarem da bruxa e voltarem para casa, encontram apenas o pai, pois a mãe havia morrido. E Chapeuzinho Vermelho, quem diria?, em um plano arquitetado com a avó, faz o lobo morrer afogado, em um segundo desfecho do clássico conto.

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Pode parecer estranho, mas essas são as versão tradicionais de contos clássicos, que foram colocadas no papel pela primeira vez entre 1812 e 1815 pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. Em 2012, os 156 contos originais que compõem o livro Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos ganharam a primeira tradução para o português, da editora Cosac Naify, feita por Christine Röhrig e ilustrada com xilogravuras do cordelista J. Borges.

O que era história oral virou livro e, agora, a exposição Grimm Agreste. Ontem, os 156 contos originais desembarcaram no Sesc Interlagos, na zona sul, em formatos variados. São instalações, xilogravuras, textos, vídeos, áudios e centenas de objetos que dialogam com as versões eternizadas pelos alemães.

“Os contos dos irmãos Grimm e o cordel parecem ter um parentesco secreto”, diz Christine, uma das curadoras, que começou a sonhar com a exposição quando traduziu as histórias do alemão para o português. “Bruxas e diabos aparecem nas histórias de Grimm e no cordel. Há uma versão de Branca de Neve muito antiga, contada na forma dos poemas populares. Eles se relacionam.”

Roteiro. Grimm Agreste extrapola a literatura e propõe que os visitantes percorram 2.150 metros do Sesc Interlagos. São seis áreas temáticas, interativas, recheadas de sons da natureza, como aves e cursos d’água.

A entrada se dá pela Sala Prefácio, área documental e mais didática. No chão há um grande mapa com referências aos espaços e um corredor, separado pelo mar. De um lado estão incríveis objetos pinçados do cotidiano – roupas, ossos de gnomos e colchas de crochê; do outro, 156 cubos. Cada um é ocupado por um objeto ou cena que dialoga com um conto, com precisão, mas de maneira surpreendente.

Quem segue à direita se depara com a Floresta, onde ficam as xilogravuras que J. Borges criou para a versão brasileira do livro e o corredor de histórias. Cornetas instaladas em cabines possibilitam que o visitante selecione e ouça fragmentos de 40 contos, narrados por personalidades como o ator Francisco Cuoco e os cantores Lirinha e Chico César.

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“Fragmentamos os contos em frases, sons e imagens para que, ao fim, o visitante conte a sua própria história, seja o protagonista que desejar”, diz Alvise Camozzi, também curador. Ao fim da Floresta, uma porta secreta, trancada, apresenta o último conto, A Chave Dourada. As diversas fechaduras escondem uma paisagem que se transforma, com fundo infinito.

À esquerda da Sala Prefácio está a Biblioteca, que guarda a Máquina para Montar Histórias. Trata-se de uma estrutura com nove rodas e cinco imagens em cada uma. O girar das rodas resulta em composições diferentes de imagens e, assim, histórias variadas. Ainda na Biblioteca, há o Gabinete Secreto, com 2 mil obras, e escadas que levam a projeções e áudios.

A exposição então transborda para a área externa, onde o visitante percorre a Trilha, de 700 metros. Há um diálogo natural com o parque, repleto de árvores e um lago que circunda o prédio principal. Bandeirolas coloridas e animais conduzem até árvores falantes, onde estão os contos de natureza. Há ainda o Poço e a Casa das Poções – esta última no viveiro, onde serão realizadas oficinas, jogos e rodas de histórias. Parte do viveiro foi transformado em um local secreto, cercado de mesas e objetos para experimentos.

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