Exposição revela força poética de Jesús Soto

Mostra no Instituto Tomie Ohtake contempla as principais fases da trajetória do artista venezuelano, que morreu em janeiro

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Por Agencia Estado
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A enxuta retrospectiva do artista plástico venezuelano Jesús Soto que será inaugurada hoje no Instituto Tomie Ohtake reafirma, em toda a sua grandeza, a força poética de sua obra. Morto no último mês de janeiro - poucos dias antes da abertura da mesma mostra no Rio -, Soto soube tirar as formas geométricas das amarras do construtivismo mais rígido, criando construções líricas e precisas, que encantam com a mesma intensidade a mente e o olhar. Dividida em três núcleos centrais, A Construção da Imaterialidade enfoca momentos distintos e complementares de sua trajetória: a primeira fase é a de descoberta dos princípios construtivos, numa Paris que em meados do século passado era o centro mundial das artes, e de cotejamento com o que de melhor vinha sendo produzido no Brasil nesse período; a segunda é marcada pela entrada dos princípios cinéticos, de elaboração de uma imagem altamente sofisticada e contagiante a partir da sobreposição de elementos simples; e a terceira contempla suas obras mais recentes e mostram como a maturidade o levou a uma liberdade enriquecedora. "Percebi que Mondrian havia tido problemas com a bidimensionalidade no cruzamento de verticais com as horizontais, onde se produzia uma vibração. Daí disse a mim mesmo que se ele havia tido esse tipo de problema, o caminho não devia ser insistir na bidimensionalidade, mas transportá-la a uma outra dimensão", explica o artista em depoimento reproduzido no catálogo da mostra. Em outras palavras, como observa o curador Paulo Venancio Filho, "o plano então, não morre, torna-se ativo, é reativado". Há na mostra um interessante núcleo em que se pode ver diferentes formas de explorar visualmente o desdobramento do plano no espaço, como o La Cocotte de Soto, um dos célebres Bichos de Lygia Clark ou uma pequena escultura de Amilcar de Castro. Também há neste bloco inicial lugar para artistas como Volpi, Franz Weissmann e Sergio Camargo (a presença brasileira mais marcante) na seleção. Eles compartilham a sala com obras históricas de Soto. Na sala dedicada ao cinetismo, Soto reina sozinho. Com um número reduzido de elementos e buscando sempre a elegância do equilíbrio, ele consegue criar composições de extrema complexidade visual, que colocam o espectador diante da dúvida sobre a real posição das coisas, que o envolve num embaralhado de dimensões - mesmo no caso de obras estáticas e não circundáveis, como são os penetráveis ou as grandes "esculturas" em fios de náilon. "Através da repetição infinita do quadrado, o quadrado em si desaparece e produz movimento puro", buscou explicar em entrevista ao crítico inglês Guy Brett. Movimento puro que se vê, por exemplo, numa obra como Cinq Grands Tiges, de 1964, que constrói um novo mundo de sensação e percepção a partir de algo simples, como a visão de cinco varetas soltas no espaço. A Construção da Imaterialidade - Jesús Soto. Instituto Tomie Ohtake. Av. Faria Lima, 201, 2245-1900, 11h/20h (fecha 2.ª). Grátis. Até 3/7. Abertura hoje, às 20 horas

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