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Exposição relembra Sergio Britto, que faria 90 anos em 2013

Um dos mais importantes atores do teatro nacional inspira Ocupação no Itaú Cultural

Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Sergio Britto (1923-2011) não tinha profissão. O ofício que escolheu não era sua ocupação, mas uma espécie de paixão absoluta, devoção desmedida, uma razão de viver. “O teatro é maior do que a vida”, ele costumava dizer e repete agora, durante o filme que compõe a Ocupação Sergio Britto.

Na mostra, que o Itaú Cultural abre neste sábado, 23, a trajetória desse ator e diretor é apresentada ao público de uma maneira peculiar: cabe ao próprio homenageado, que completaria 90 anos em 2013, contar seus percalços e vitórias, sinalizar os pontos-chave desse longo percurso, que se entrelaça à história do teatro e da televisão no século 20. “É um personagem ímpar. Se você analisar os momentos marcantes do teatro brasileiro, verá que ele fez parte de todos”, considera Hermes Frederico, curador da exposição e diretor da Cal - Casa das Artes de Laranjeiras.

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Estreou ao lado de Sérgio Cardoso em uma histórica montagem de Hamlet. Passou pelo Arena e pelo TBC - Teatro Brasileiro de Comédia. Fundou o Teatro dos Sete, uma das mais importantes companhias dos anos 1950, ao lado de Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi e Gianni Ratto. Aderiu ao Teatro dos Quatro, nos anos 1980.

Concebido para a Ocupação, o vídeo a ser exibido costura imagens a trechos de várias entrevistas de Sergio. “A ideia era fazer tudo partir dele, colocá-lo para narrar essa história como se ele ainda estivesse aqui”, comenta Marilia Brito, sobrinha do artista.

Quando o estado de saúde do tio se agravou, em 2011, Marilia assumiu a responsabilidade pela guarda do material, que inclui cerca de 10 mil fotos, centenas de páginas de jornais, programas de espetáculos, além de coleções de vídeos e DVDs. O processo de tratamento e digitalização de todos esses itens já está em curso, ela conta, e deve culminar com o lançamento de um portal em 2014. “Ele foi, sem ter essa intenção, uma grande arquivista. Guardava tudo. Não só o que fez, mas também o que via, o que lia. Ele queria que as pessoas tivessem acesso a isso”, observa Paulo César Brito, também sobrinho do ator e autor de Memória a 2, uma autobiografia de Sergio que ele ajudou a escrever e deve ser lançada em breve pela Funarte.

O público que visitar a mostra irá encontrar um ambiente que remete a uma caixa preta. A cenografia de José Dias reproduz o clima dos teatros, que foram o lar de Sergio Britto durante 65 anos. Após o terceiro sinal, apagam-se todas as luzes e as imagens são projetadas nas quatro paredes do espaço. Do lado de fora, monitores complementam as informações e trazem depoimentos de várias personalidades que conviveram com o artista. Entre elas, está Irene Ravache: a atriz participa de um bate-papo com o curador e os visitantes hoje, às 17h.

Existiram atores do porte de Britto: Paulo Autran, Raul Cortez, Ítalo Rossi, Jardel Filho. Nenhum deles, porém, extrapolou os limites do palco da mesma maneira. “Ele não era só um grande intérprete. Era um homem de teatro no sentido pleno”, pontua Hermes Frederico. “E guiado sempre por um senso de pioneirismo.”

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Sem conseguir dinheiro para financiar suas produções, criou um sistema de venda de assinaturas – em um momento em que a prática ainda era incomum. Dirigiu a primeira novela da Rede Globo, Ilusões Perdidas (1965). Foi um dos fundadores do Grande Teatro Tupi, que produziu mais de 450 peças para a televisão.

Outro traço de Sergio Britto evidenciado no evento é a constante inquietude que o alimentava: esteve sempre em busca de novos autores, não se prendeu a nenhum estilo ou escola, tornou-se referência para os mais experientes e para os mais jovens.

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