Exposição e seminários discutem arte do século 20

No MAM, Duas Faces do Brasil opõe modernistas versus geração dos 60 e 70; no Centro de Arte Hélio Oiticica, encontros debatem rupturas da arte; e no MAC de Niterói, pesquisadora fala da arte engajada nos Estados Unidos

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Por Agencia Estado
Atualização:

A exposição Duas Faces do Brasil, em cartaz no MAM do Rio até 10 de setembro, reúne obras do movimento modernista dos anos 20 e 30 e da geração dos anos 60 e 70. O propósito é claro: levantar polêmica. O mote da mostra é confrontar visões sobre o Brasil e tornar evidente a disparidade entre estes dois grupos de artistas. O acervo conta com pinturas, objetos e obras interativas da coleção Gilberto Chateaubriand. Uma mostra de filmes na cinemateca do museu dará continuidade à exposição. As obras não estão dispostas em ordem cronológica. Três módulos dividem o espaço: o primeiro sobre o espírito do lugar, depois o espírito do povo, terminando com um olhar sobre a civilização. Em cada uma dessas partes, as gerações de artistas são colocadas lado a lado, de forma, sugerindo o duelo. As abordagens diferem, e salta aos olhos a acidez com que a geração de 1960 critica a imagem do País e do povo brasileiro construída pelos modernistas. Logo no início do salão, o visitante vê a obra Anjos de Tarsila do Amaral, e, a meio metro dali, Crescimento Acelerado da Economia, de Glauco Rodrigues. Ambas recorrem a anjos brasileiros, a primeira louvando a miscigenação e a outra impondo o conflito de classe acima da questão racial. Para os artistas do fim dos anos 60, o nacionalismo modernista produziu obras que soavam conciliatórias. Com seu projeto de identidade nacional através da arte, os modernistas teriam servido de estofo ideológico para o ufanismo que tomou conta do País durante o regime militar. Além disso, o jovem artista dos anos 60 e 70 não se interessava em unir povo e governo numa caminhada rumo ao futuro certo. O sonho revolucionário interferiu na produção artística, assim como a contracultura e a pop art. Na década de 60, o artista se colocou numa posição oposta à do modernismo. Não é de se estranhar a raiva e a ironia com que esta geração critica o modernismo. Complementando a exposição, a cinemateca do MAM vai mostrar oito longas brasileiros entre os dias 12 e 20 de agosto. Do que talvez seja o equivalente ao modernismo no cinema, estarão em cartaz O Descobrimento do Brasil e Ganga Bruta, de Humberto Mauro. Já os anos 60 estão representados, é claro, pelo cinema novo. Os filmes desta época serão Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, Cinco Vezes Favela (cinco episódios de autores diferentes), A Idade da Terra, de Gláuber Rocha, e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos. Também será exibido Noites do Sertão, de Carlos Alberto Prates Correa, de 1984. Seminários e palestras - O roteiro das artes plásticas no Rio inclui ainda o seminário Rupturas Modernas, de 1 a 3 de agosto no Centro de Arte Hélio Oiticica, e a palestra sobre a arte engajada nos Estados Unidos com a pesquisadora e artista plástica Marcia Rosefelt, no MAC de Niterói. Rupturas Modernas contará com presenças ilustres do Brasil e outros países da América Latina. O artista plástico Carlos Zílio e a historiadora da arte Aracy Amaral serão alguns dos brasileiros a dividir as palestras com Rina Carvajal e Irma Aristizábal, respectivamente colombiana e argentina e também historiadoras da arte, entre outros convidados. No primeiro dia os palestrantes discutirão a formulação de identidades nacionais pela arte no início do século 20 e a quebra com estes paradigmas a partir dos anos 50. Em seguida, é a historiografia da arte que entra em debate, na tentativa de recuperar o texto sobre arte nos países latino americanos. No terceiro dia, o tema é a arte contemporânea, suas descobertas e seus diálogos com a filosofia. No MAC de Niterói, a pesquisadora e artista plástica Marcia Rosefelt dará palestra sobre arte engajada recente nos Estados Unidos nos dias 5 e 12 de agosto. Marcia é Ph.D pela New York University. A arte das feministas e das minorias culturais e raciais fazem parte do tema da aula. Duas Faces do Brasil - Museu de Arte Moderna - Av. Infante Dom Henrique 85, aterro do Flamengo. Telefone: 210-2188. Ingresso a R$ 8. Rupturas Modernas - Centro de Arte Hélio Oiticica - Rua Luis de Camões 68, Centro. Telefone: 242-1012 e 242-1213. Arte engajada nos EUA - Museu de Arte Contemporânea de Niterói - Mirante da Boa Viagem s/nº.

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