Exposição de Dora Longo Bahia discute a violência

Artista mostra pinturas, caixas de luz e uma instalação, tendo a cor vermelha e riscos na superfície como marcas comuns

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Por Agencia Estado
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Pinturas que trazem paisagens praieiras, mas riscadas para que transpareça o fundo vermelho da tela. Caixas de luz feitas a partir de filme infravermelho riscado, fazendo aparecer algumas linhas vermelhas no meio de uma paisagem irreconhecível, às vezes fantasiosa, outras, fantasmagóricas. Estas são as maneiras que a artista plástica Dora Longo Bahia encontrou para tratar a violência, tema recorrente em toda a sua obra e que mais uma vez está presente em suas recentes criações que podem ser vistas em exposição individual que será inaugurada nesta terça-feira na Galeria Luisa Strina. A mostra não tem título, mas o catálogo, que traz uma entrevista feita por Ana Paula Cohen com a artista, tem: Who´s Afraid of Red? (Quem tem medo do vermelho?), uma alusão ao incidente que ocorreu com a pintura Who´s Afraid of Red, Yellow and Blue III, de Barnett Newman. A obra criada na década de 60 sofreu um atentado em Amsterdã, quando um homem entrou no local e a cortou dentro do museu. Agora, os riscos em suas três telas são a referência direta a essa história, "a violência sobre a pintura, a destruição da imagem pintada", como explica a artista. Se em pinturas anteriores Dora explorou a violência física - trabalhos sobre o suicídio ou com mulheres espancadas - ou retratou homens responsáveis por crimes noticiados em jornais - e vale dizer, quase abstratos por causa do tons de azul velados -, agora a artista diz não querer "ficar fazendo uma representação da violência". Os riscos são a referência direta ao tema, além do uso da cor vermelha, recorrente na obra de Dora, que também é professora no curso de artes plásticas da Faap. Outro aspecto usado nas pinturas é a deformação da imagem. Inspirada em fotografias de paisagens da cidade de Carneiros, a artista fez os quadros, mas não como cópia direta. As pinturas foram feitas a partir de projeções e, desse modo, há uma deformação discreta da imagem. Ademais, Dora utiliza cores muito estranhas para representar as paisagens - há o exagero do rosa, por exemplo. Já as quatro caixas de luz (back lights) foram feitas com imagens captadas em Camburi. Duas delas só trazem a paisagem e as outras duas, referências humanas, mas, como prefere Dora, são "fantasmas". "São paisagens de lugares paradisíacos, como se fossem utopias, lugares de sonhos, fantasias", afirma a artista. E sobre os dois "fantasmas", Dora diz que são uma relação com os contos de fadas. "Uma idéia de espelhamento - só que uma pessoa em um lugar que não fosse reconhecido. Como uma figura imaterial", explica. Há caixas de luz em que a própria paisagem está imersa no vermelho. E há uma em que a vista parece ser de um deserto, com tons em azul, entretanto com alguns riscos vermelhos em um canto, a referência à idéia de violação da paisagem. Sobre os riscos, Dora Longo Bahia diz que estão presentes em sua obra desde um estágio que fez em 1999 em Amsterdã, onde estava a pintura de Barnett Newman. O vermelho já aparecia nas obras feitas desde a primeira metade da década de 90. E o outro elemento fundamental em sua obra é a fotografia. Todos os trabalhos foram feitos a partir da fotografia e outro exemplo é a instalação abrigada no terceiro andar da galeria. A obra é composta por uma pintura feita diretamente sobre a parede - mais uma vez uma paisagem com coqueiros. Sobre essa pintura, um projetor de slides incide sua luz direta. Ao lado, uma projeção de um slide com a imagem da mesma paisagem que foi pintada na parede. Na primeira, há a luz da fotografia e na segunda, a própria imagem fotográfica. A mesma idéia vale para as pinturas e as back lights dispostas na entrada galeria. Serviço - Dora Longo Bahia. De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 10 às 17 horas. Galeria Luisa Strina. Rua Oscar Freire, 502, tel. 3088-2471. Até 24/7. Abertura nesta terça, às 19 horas. Fecha dia 30/5

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