PUBLICIDADE

Existe uma ´multidão faminta por leitura´, diz García Márquez

Escritor foi homenageado no 4.º Congresso Internacional da Língua Espanhola

Por Agencia Estado
Atualização:

O escritor colombiano Gabriel García Márquez convidou, na segunda-feira, seus colegas de ofício a suprirem a demanda gerada pela "descomunal multidão faminta por leitura" no idioma espanhol. Homenageado no 4.º Congresso Internacional da Língua Espanhola por seus 80 anos de vida, 40 de publicação da obra-prima Cem Anos de Solidão e 25 do seu Nobel de Literatura, Gabo, como é conhecido, vestido todo de branco, foi aplaudido de pé em várias ocasiões por mais de 2 mil pessoas. A platéia viu o escritor receber no evento o primeiro exemplar de uma edição comemorativa de Cem Anos de Solidão. No discurso de agradecimento do escritor, lido pausadamente, ele afirmou: "Mas não se trata nem pode se tratar de um reconhecimento a um escritor. Este milagre é a demonstração irrefutável de que há uma quantidade enorme de pessoas dispostas a ler histórias na língua castelhana". "E, portanto, 1 milhão de exemplares de Cem Anos de Solidão não são 1 milhão de homenagens ao escritor que hoje recebe enrubescido o primeiro livro desta tiragem descomunal. É a demonstração de que há milhões de leitores de textos em língua castelhana esperando famintos por esse alimento." Relembrando sua carreira, García Márquez revelou que até hoje digita seus livros apenas com os indicadores. "Não sei a que horas tudo aconteceu (o começo da carreira). Só sei que desde que tinha 17 anos e até a manhã de hoje não fiz coisa diferente de me levantar cedo todos os dias, sentar na frente de um teclado para encher uma página em branco, ou uma tela vazia de computador, com a única missão de escrever uma história ainda não contada por ninguém." Para escrever Cem Anos de Solidão, García Márquez passou mais de seis meses no México sem ganhar um centavo - sua mulher, Mercedes, se encarregava de negociar adiamentos do aluguel e de levar comida para casa. Célebre platéia Sob risos da platéia, ele admitiu que, ao terminar de escrever a saga da fictícia Macondo, ia enviá-la pelo correio à Editorial Sudamericana, em Buenos Aires, mas percebeu que não tinha dinheiro suficiente. Decidiu então dividir em duas partes o manuscrito de 590 páginas datilografadas em espaço duplo. Enviou a segunda e ficou com a primeira, que só foi remetida à Argentina quando o editor, inquieto para conhecer o começo da história, mandou mais dinheiro. "E é isso que me aconteceu. O que vejo é que o leitor inexistente da minha página em branco é hoje uma descomunal multidão faminta de leitura de textos em língua castelhana", afirmou García Márquez. "O desafio é para todos os escritores, todos os poetas, narradores e educadores da nossa língua para alimentar essa sede e multiplicar essa multidão, verdadeira razão de ser do nosso oficio e, evidentemente, de nós mesmos", concluiu o autor de "Amor nos Tempos do Cólera", "Ninguém Escreve ao Coronel", "Crônica de uma Morte Anunciada" e "O Outono do Patriarca", entre outros. Os reis da Espanha, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, o escritor mexicano Carlos Fuentes e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton assistiram à cerimônia.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.