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Ex-diretor prepara livro sobre história da feira

Peter Weidhaas, saudado por onde passasse durante o evento, escreve a história da feira, ressaltando o seu caráter internacional desde o século 13

Por Agencia Estado
Atualização:

A feira de livros de Frankfurt, na Alemanha, esteve, nos seus últimos 25 anos, ligada a um nome: Peter Weidhaas. Principal dirigente do mais importante encontro internacional de editores por todo esse tempo, Weidhaas teve o mês de outubro mais tranqüilo de sua vida. Isso porque, agora, pela primeira vez, na versão deste ano, que acabou hoje, ele teve as honras de ex-diretor. "Agora, estou livre para andar à vontade", disse ele à reportagem, durante uma comemoração promovida por editores africanos, que estão em Frankfurt fazendo contatos e procurando divulgar a precária indústria editorial do continente. "Mas essa feira ainda é minha, eu a reconheço - estive na sua organização até março", afirma, reapropriando-se da realidade que ajudou a construir. "No ano que vem, sim, ela será uma novidade para mim; haverá um pavilhão novo (o 11.º)." Quando passa pelos andares dos dez prédios que formam o imenso centro de convenções de Frankfurt, Weidhaas, um simpático senhor de (muita) barba e (poucos) cabelos brancos, é apontado com admiração pelos editores, que o cumprimentam saudando aquele que é considerado o responsável pelo sucesso do evento e pelo seu formato atual. Weidhaas está preparando um livro sobre a história da feira, que deve ser lançado aqui no ano que vem. "Essa feira de livros, na verdade, tem uma trajetória secular", afirma. "A obra que estou escrevendo vai procurar retraçá-la", explica. Já no século 13, conta Weidhaas, Frankfurt era um ponto de troca de livros - e assim continuou por alguns séculos. "Era uma feira mundial, no sentido de reunir pessoas de toda a Europa de Amsterdã, de Estocolmo, das cidades italianas, ou seja, de todos os principais centros de edição da época." A história desse local em que os livros eram trocados passa pelo alemão Johann Gutenberg (1400-1468), inventor da imprensa de tipos móveis, que revolucionou o trabalho de edição. "Se hoje nos comunicamos em inglês, na época a língua franca era o latim", diz. A história de Frankfurt atravessaria a censura promovida pela Igreja Católica e pelo Estado alemão, após a unificação, no século 19. A cidade deixou de ser esse ponto de cruzamento da indústria editorial. Sua versão moderna começou no Pós-Guerra, em 1949, mas Weidhaas considera que as dificuldades só terminaram realmente com o fim da República Democrática Alemã, após a queda do Muro de Berlim, em 1989. "O importante é que Frankfurt mantém o seu caráter internacional, o mesmo desde o seu princípio", afirma. A Feira de Frankfurt contemporânea, com seus quase 6 mil exibidores, seria, portanto, uma espécie de retomada de um antigo encontro, muito menor, mas igualmente cosmopolita. No período em que essa vocação estava eclipsada, foi Leipzig a cidade que assumiu a função de reunir os editores alemães. Mas, segundo Weidhaas, essa era uma feira de editores alemães voltada totalmente para o mercado editorial alemão. O que não é, nem de longe, sua principal preocupação: Weidhaas é fundador do centro que promove as literaturas latino-americanas e africanas na feira e, no discurso de abertura do evento, no ano passado, citou autores como a indiana Arundhati Roi e o brasileiro Paulo Coelho. Para ele, apesar de o mercado interno alemão ser o que mais movimenta recursos nos seis dias da feira, é o que vem de fora que faz de Frankfurt um local privilegiado. Na sua opinião, o evento alemão é, ao mesmo tempo, um evento cultural e empresarial. "Não são só os editores que vêm, os autores também", afirma. Seu objetivo, durante o período em que dirigiu a feira, diz, foi sempre dar relevância para os aspectos culturais, que considera parte essencial do negócio chamado livro. "Foi a partir do momento que criamos o fórum para a América Latina e para África que ocorre, no final dos anos 70, o boom da literatura latino-americana na Europa", vangloria-se. "A feira existe não apenas para se um local de compra e venda de direitos, mas também um ponto de troca de informações, de notícias." Além do livro da história da feira, Weidhaas está escrevendo um segundo volume de um obra de memórias. "Mas esse é de impressões pessoais, são minhas opiniões, memórias, é completamente diferente. Futuro - Perguntado se a Internet e a troca de informações entre os editores por correio eletrônico não estaria reduzindo a importância da feira, Weidhaas responde que não. "A feira continua importante, é onde as pessoas se encontram e se conhecem", afirma. Para ele, as duas coisas acontecem simultaneamente: há mais informação circulando fora do evento por meios digitais, sim, o que é cada vez mais imprescindível; porém, passar pelos salões, estandes e corredores de Frankfurt anualmente continua e continuará a ser fundamental para quem quer ser levado a sério no meio editorial. O evento seria o momento em que as parcerias e os laços seriam reforçados - ou mesmo criados. "Nos anos 60, os editores precisavam de três horas para fazerem seus negócios; nos 70, de três dias; atualmente de seis dias." Uma das explicações que dá para o fato: as novas tecnologias facilitam a organização das agendas dos editores e agentes literários. Em vez de enfraquecer portanto, a Internet estaria fortalecendo o encontro. Além disso, a feira seria especialmente importante para a literatura de países da Ásia, América Latina e África, que, numa exceção em relação ao resto do ano, têm na cidade alemã a oportunidade de exibir seus produtos e suas idéias. "Não sou só eu que penso assim, milhares de editores também", afirma. E os números parecem lhe dar razão: a previsão é que a freqüência, na 52.ª edição, supere os 300 mil visitantes num crescimento de cerca de 6% em relação ao ano passado. Para Weidhaas, a feira continuará sempre a existir.

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