Ex-coelhinha tem audiência recorde na TV

O primeiro capítulo de The Anna Nicole Show superou o hit Os Osbournes, no qual foi inspirado. Mas não vai ser fácil manter o sucesso: além de ridicularizado pela crítica, o programa repete fórmulas e escorrega na falta de assunto

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Por Agencia Estado
Atualização:

Começou a corrida do ouro da TV americana para tentar reproduzir o sucesso inesperado de Os Osbournes, a série de "reality TV" da MTV que vem gerando milhões de dólares a todos os envolvidos. Estreou no fim de semana no canal E! Entertainment a série The Anna Nicole Show, que pretende transformar em fenômeno o dia-a-dia da intrigante modelo e ex-coelhinha da Playboy, que virou personagem da cultura pop americana depois de se casar com o bilionário J. Howard Marshal, quase 60 anos mais velho que ela. O programa foi detonado pela crítica americana, mas o público estava curioso para entrar na intimidade da modelo: de acordo com o Hollywood Reporter, o programa teve uma audiência maior do que a estréia de Os Osbournes. Com quase 6 milhões de domicílios, a série teve a maior estréia da história para um canal de TV a cabo básico e maior audiência do canal, segundo a edição online da revista People. O programa foi especialmente bem no Texas, onde Smith nasceu, e na Califórnia, onde ela mora, chegando à marca de 9,7 e 8,7 pontos percentuais respectivamente - cada ponto equivale a 1 milhão de domicílios nos Estados Unidos. Ao contrário da série da MTV, esta não provoca risadas, apenas choca por conta do clima de exploração mútua entre a emissora e a estrela e fornece vasto material para análise do comportamento humano. Desde que Os Osbournes virou hit, filas de celebridades dispostas a abrir a intimidade em troca de dinheiro se formaram nas portas de vários canais americanos. O VH-1, segundo canal da MTV, vai produzir uma sobre Liza Minelli e David Gest. Mas não vai ser fácil para Anna Nicole manter o sucesso da estréia. Não só porque a idéia não é mais original, mas porque é impossível segurar uma série sem a ajuda de vários personagens que rendam, como é o caso da mulher e dos filhos de Ozzy. Enquanto a história de Anna Nicole Smith é uma das mais incríveis dos últimos anos, uma verdadeira novela que inclui batalhas judiciais, problemas com drogas, assédio homossexual, ganho de peso e falta de caráter, ela, em si, não é um personagem interessante. Claro, ninguém pode acusá-la de não ser esperta - Smith está bem perto de ganhar US$ 88 milhões. Mas ela não tem dons artísticos, nem uma vida de aventuras incríveis no rock, como Ozzy. Embalado pelo sucesso de um especial da série Histórias Reais, um dos mais bem-sucedidos da emissora, o E! achou que poderia esticar o apetite do público em pelo menos 13 episódios, mas vai ser difícil. Um dos problemas é que a emissora, com sua estratégia de tornar a programação cada vez mais provocante, estava apostando no apelo sexual da modelo - uma missão quase impossível, já que, por conta de uma depressão, ela ganhou muitos quilos e está com uma silhueta bem diferente dos seus tempos de stripper. A promessa do programa de mostrar a intimidade e o dia-a-dia de Smith também faz pouco sentido, já que a vida dela ainda se resume a esperar por mais um episódio da batalha pelos milhões de Marshall, que estão sendo disputados há sete anos com a família do bilionário texano com quem ela foi casada durante 14 meses. No primeiro episódio, por exemplo, ela procura uma casa para comprar (provavelmente com o dinheiro que ganhou para fazer o programa), outra tentativa de partir do mesmo ponto que Os Osbournes (os primeiros capítulos da série trataram da mudança da família para uma nova mansão). Outro problema é o próprio comportamento da modelo. A enxurrada de bobagens que despenca de sua boca provoca constrangimento. A sensação é parecida com aquela que os programas de auditório populares provocam quando mostram aberrações médicas. Anna Nicole diz que desde que passou a ter pelo menos sete horas de seus dias acompanhado pelas câmeras, em maio, conseguiu sair da depressão em que havia mergulhado por conta das batalhas judiciais. Em entrevistas nos últimos dias, ela diz que espera que a série traga novas oportunidades de trabalho de atriz (!) e um novo namorado, já que ela afirma não fazer sexo há dois anos. É bem provável que ela nem tenha percebido o quanto o especial da série Histórias Verdadeiras explorava o lado negativo de sua história, incluindo vários depoimentos que insinuavam seu perfil de pilantra. No melhor estilo americano, em que é preferível ser famoso do que idôneo, ela parece acreditar que está em uma nova maré de sorte. Para a ex-coelhinha da Playboy, cujos altos da carreira são raros e duvidosos e os baixos são dignos de fotonovelas, voltar a ganhar atenção não tem preço. Resta saber até que ponto o sadismo do público vai durar - mas ninguém duvide que a série vire sucesso.

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