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Ewerton de Castro vai fechar escola

Por Agencia Estado
Atualização:

Na semana passada, o ator e diretor Ewerton de Castro, de 57 anos, resolveu abrir o jogo: a escola profissionalizante de teatro que fundou há seis anos, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, está condenada a fechar. E mais: Ewerton terá de encarar uma dívida de R$ 150 mil, entre empréstimo bancário e impostos com o governo. Disse que, entre alguns fatores, o alto índice de inadimplência das mensalidades no final de 2002 agravou a situação. "Foi o grande sonho da minha vida, mas não posso continuar pagando a escola do meu bolso." Na quinta-feira, ele reuniu os 21 professores e 8 funcionários para anunciar o fechamento da escola. Pensou-se em soluções para evitar seu fechamento: vender a escola, ou passar a gestão ao coletivo de professores ou, ainda, partir em busca de recursos públicos. Na tarde da quinta-feira, ele foi pessoalmente ao gabinete da nova secretária de Estado da Cultura Claudia Costin. Saiu sem uma definição, mas com a garantia de apoio da secretaria. O impasse deve ser resolvido até o início de fevereiro, quando a escola reinicia o ano letivo. "Eu me considero um bom administrador, mas vivo num país onde os impostos me comem pela perna. Um funcionário que recebe R$ 600,00 por mês, na realidade custa R$ 1.000,00. Na hora de pagar as contas, não posso dizer que só vou pagar 40% porque estou com uma inadimplência na escola. Eu sou obrigado a pagar 100%." Segundo o ator, a escola já não ia bem há algum tempo. "Mas havia sempre a esperança de que ia melhorar; pensava ser impossível uma coisa com todas essas boas intenções não dar certo." A escola tinha por mantenedora a Ewerton de Castro Produções Artísticas Ltda. Ele disse estar aliviado por ter conseguido pagar os salários de novembro e dezembro dos 21 professores e 8 funcionários - receita que corresponde a cerca de 50% do orçamento da escola, que é de aproximadamente R$ 50 mil mensais. Primeiro, vendeu um imóvel para saldar os compromissos de novembro. E para acertar o mês de dezembro, o que ocorreu há poucos dias, contraiu uma dívida no banco. "Agora devo R$ 150 mil para o banco e o governo (encargos acumulados à medida que o tempo passou). Sou precavido e resolvi parar agora pensando que, se continuar, em seis meses serão R$ 300 mil." A escola mantém um quadro docente formado por Waterloo Gregório, Roberto Vignatti, Eraldo Rizzo e Rogério Toscano, entre outros. Segundo Ewerton, a meta sempre foi os alunos terem um alto ensino pagando mensalidades acessíveis. Em seis anos, ele ampliou o espaço de 600 m2 para mais de 1.000 m2. "Formamos o ator com muito mais aulas do que o necessário, com matérias optativas, como filosofia, caracterização cênica (Commedia dell´Arte e clown) e legislação e ética, além de canto coral." A carga horária da escola é de 1.544 horas e forma o ator em dois anos. Ewerton deu muitas bolsas de estudo e criou alojamento para estudantes de outras cidades. A experiência do artista que sonhou em ter uma escola de formação de atores de "alta qualidade", como ele ressalta, simboliza no fim das contas a situação de um país que tenta emergir de uma grave crise na educação e na economia. "Sabemos que desde a época da repressão, a cultura brasileira foi relegada ao 15º lugar. Enquanto nossas escolas não estiverem realmente ensinando, esse país não será nada." Ator de novelas e peças memoráveis, como Éramos Seis na TV "Tupi" e O Homem Elefante, no teatro, Ewerton só fala em morar por alguns meses no interior do Estado. Na sexta-feira, o professor Eraldo Rizzo, há mais de quatro anos na escola e responsávela pelas aulas de interpretação e análise e interpretação do texto teatral, ainda assimilava as propostas para prevenir o fechamento da escola. "Ela está baseada no nome e na pessoa do próprio Ewerton e não acho que é vantagem os professores assumirem a administração. Mas estou otimista quanto à busca de apoio público: uma escola com esse ideal de formação do ator não pode afundar assim."

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