Evelyn Waugh, mestre da sátira sofisticada

Figura controversa, Evelyn (Arthur St. John) Waugh foi um dos mais populares, queridos e respeitados escritores ingleses. O motivo: ter libertado o humor inglês do formalismo

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Por Agencia Estado
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Os elogios vinham de todos os lados - o crítico americano Edmund Wilson o saudava como o único gênio cômico de primeira classe surgido na Inglaterra desde Bernard Shaw; já o escritor George Orwell admirava sua obra, mesmo quando alguns críticos preferiam atirar pedras. Figura controversa, Evelyn (Arthur St. John) Waugh foi um dos mais populares, queridos e respeitados escritores ingleses. O motivo: ter libertado o humor inglês do formalismo. Devastador na crítica e na sátira de costumes de seu país, ele tem ainda todos os seus livros sendo constantemente reeditados na Inglaterra, mesmo com sua morte em 1966, aos 63 anos. No Brasil, Waugh (pronuncia-se Uó) era apenas conhecido por um pequeno círculo de iniciados nos anos 60, quando a Civilização Brasileira e a editora Agir lançaram algumas de suas obras. Nos anos 80 e 90, a Companhia das Letras permitiu que uma parcela maior do público se deliciasse com suas sátiras, publicando quatro livros. Agora, a Editora Globo, em seu plano editorial de recuperar a obra de grandes nomes (já o faz com Hilda Hilst e Érico Veríssimo, só para ficar entre os brasileiros), assumiu a tarefa, lançando A Provação de Gilbert Pinfold (288 páginas, R$ 30), um dos últimos grandes títulos cômicos de Waugh, lançado em 1957. Nos planos da editora, estão The Lovely One (O Bem Amado, na edição de 1961 da Civilização) para abril ou maio, e Black Mischiel (Magia Negra, na de 1963, também da Civilização) para junho ou julho. Depois, virão os livros já lançados pela Companhia. O cuidado com a versão para o português, aliás, é essencial. Waugh era um escritor cáustico e provocador, que não perdia a sofisticação mesmo adotando uma linguagem coloquial, sem nenhum abuso de metáforas. Para ele, escrever era o exercício de contar uma história por meio de uma linguagem literária que sofria o peso de uma investigação psicológica ou de caráter dos personagens. Ele foi, na verdade, uma síntese das qualidades e defeitos de seu povo. Conservador que não aceitava a rotina, católico por conversão mas praticante à sua maneira, Waugh era um moralista que batia no peito a cada instante, mas não via o pecado em tudo e em todos. Filho de uma família de escritores e intelectuais, já era conhecido do público aos 25 anos. Com 27, e já separado da primeira mulher, busca resolver os tormentos espirituais e não sucumbir ao álcool convertendo-se ao catolicismo, mesmo inconformado com a imposição de dogmas. Como repórter, cobre a guerra Itália-Etiópia de 1935-36, na qual se inspira para escrever Furo!, uma devastadora e insistentemente engraçada crítica da imprensa e de todos os que nela trabalham. Na 2.ª Guerra Mundial, serve como fuzileiro, provando ser sério em tudo o que fazia: um dos três únicos sobreviventes de um avião abatido na Iugoslávia, escondeu-se em uma caverna e, enquanto aguardava resgate, aproveitou para revisar as provas de seu romance Memórias de Brideshead. Viajou ainda pela África e América do Sul (detestou Boa Vista, no Acre) até se recolher em Somerset, onde moraria até a morte.

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