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Evandro Carlos Jardim inaugura mostra em São Paulo

Por Agencia Estado
Atualização:

A mostra que Evandro Carlos Jardim inaugura quarta-feira na Múltipla de Arte traz as preocupações atuais do artista plástico, mas sem, para isso, recorrer apenas aos trabalhos mais recentes. Jardim, hoje uma das principais referências da gravura brasileira, não é artista de novas fases. Sua obra toda é costurada por imagens recorrentes do repertório de seu cotidiano. E, por isso, normalmente a data de suas peças indica apenas o ano em que ela foi iniciada. Muitas vezes o artista retorna ao próprio trabalho para continuar sua investigação sobre o tempo. Em outras, ele prossegue no mesmo caminho em criações de técnicas e períodos diferentes. Essa relação fica bem clara na montagem da individual. A exposição ocupou os dois andares com composições de trabalhos que atestam a continuidade de um único pensamento e um projeto de pesquisa sobre o tempo. "A plenitude do momento é uma busca de toda minha vida", observa o também professor, hoje orientador de mestrado na Escola de Comunicação e Artes da USP. A exposição é aberta exatamente por um dueto de linguagens. À direita de quem entra, a têmpera sobre tela "O Lugar do Barco. Entre o Dia e a Noite" (com datas de 1964 e 1999) apresenta uma embracação estacionada, uma solitária figura mergulhada em violetas e azuis de um final de tarde imaginário. "Existe uma tentativa de captar um momento de espera da chegada de uma mudança", explica Jardim. "E, ao meu ver, essas cores caracterizam a luminosidade desses instantes de expectativa." Em frente à tela, o barco ressurge, ainda como figura solitária, sem cor, em uma xilogravura em que a espera se traduz pelo desconfortável ângulo de inclinação do objeto, mais evidente na reprodução em que a imagem é estampada de maneira chapada. Em algumas obras, o visitante poderá constatar a relação entre obras por meio da sinalização de palavras e de anotações sobre as obras. "As palavras e letras são recursos que muitas vezes utilizo para me orientar entre os trabalhos", diz. "Na verdade vejo todo o meu trabalho como um caderno de anotações ." Nos diferentes conjuntos de obras (ao todo são 11 têmperas, 3 caderos e 20 gravuras, em metal, madeira e água forte), a presença mais contundente é das figuras solitárias, objetos que de alguma maneira resumem as impressões de um ambiente, paisagens internas registradas como reminiscências, lugares tão familiares como estranhos. As pinturas "Sete Horas" e uma das telas da série "Rio Pinheiros" trazem essas chaves da lembrança. Assim como a embarcação exposta no primeiro andar, um prato vazio e um relógio (marcando também o horário do fim do dia) evocam a espera que promove uma espécie de suspensão do tempo nas obras do pintor e gravador. Olívio Tavares de Araújo escreve no texto do catálogo que o tempo de observação do trabalho do artista o fez perceber que além de um gravador essencial, Evandro Carlos Jardim é também um pintor essencial. A conclusão do crítico também fica evidente para o espectadores dessa individual, em detalhes, como as molduras dos trabalhos. "Historicamente, elas não chegam mesmo a ser molduras", acrescenta o artista sobre os enquadramentos em madeira crua e sem acabamento que, de acordo com ele, servem somente para proteger as telas. "Utilizo recursos nulos para não correr o risco de desviar do assunto que é o trabalho." Evandro Carlos Jardim - De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, até 14 horas. Múltipla de Arte. Avenida Morumbi, 7.986, em São Paulo. tel. (11) 241-0157. Até 23/12. Abertura às 20 horas. Patrocínio: DM9DDB.

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