Eva Yerbabuena traz seu flamenco despojado ao Brasil

Com o espetáculo 5Mujeres5, sua companhia abre a série Antares Dança 2002. Turnê começa no Rio e passa por Porto Alegre, Brasília, Salvador e São Paulo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Eva Yerbabuena e companhia estão no Brasil para dar início à série Antares Dança 2002. A companhia mostra 5Mujeres5, coreografia que estréia na América Latina. A turnê começa pelo Rio, na terça e quarta-feira no Municipal, passa por Porto Alegre, Brasília e Salvador, para chegar em São Paulo no dia 11, ao Teatro Municipal. Depois segue temporada no Teatro Alfa, do dia 15 ao 17. Eva é hoje uma das bailarinas mais populares de flamenco. Um sucesso total na Espanha. Em sua única apresentação em Madri, no início do mês, especialmente para o evento Emociona!!! Mujer - uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher -, os ingressos foram muito disputados e a intérprete foi ovacionada. A coreografia, premiada na Bienal de Sevilha em 2000, foi apresentada no palco do Teatro Real de Madri, onde uma mulher vestida de branco, sentada em uma poltrona, também branca, observava atentamente a movimentação da platéia, que ocupava todos os 1.300 assentos disponíveis. 5Mujeres5 é um espetáculo, no sentido mais puro do termo. Tudo preto, jogo de sombras e luzes. Ao sinal de aviso para o início do show, apenas o palco, escuro, nesse momento vazio. Surgem quatro homens que dançam, apenas alguns efeitos de luz. Músicos aparecem das sombras. Tradição - Em seguida, tomam de assalto o palco as cinco mulheres do título, todas de branco, vestidos com poucos babados, praticamente sem adereços - limpos de presilhas ou mantos -, um estilo clean, leve, distante do colorido convencional. "As pessoas se surpreendem, mas pesquisei muito para compor esse figurino. Antes não havia esse excesso de cores que hoje é sugerido. Na verdade, resgatei uma antiga tradição", comenta Eva. A pesquisa da coreógrafa foi válida para a escolha das cores e o encaminhamento do espetáculo. No entanto, toda a montagem da peça teve forte influência do diretor cênico, Hamsel Cereza. Foi dele a opção por um trabalho com força dramática e com seqüência narrativa. As cores são um elemento de impacto, como o jogo de imagens que surgem na sombra, primeiro o choque causado pelo figurino todo branco no flamenco, depois a escolha pelo preto e, para finalizar, como opção, o vermelho, vibrante. As cores tornam-se mais quentes, vivas e fortes, dão clima ao desenvolvimento da coreografia, até chegar ao clímax, com o sapateado final. A primeira parte de 5Mujeres5 traz como tema central o amor. "Para criar essa coreografia, decidi isolar-me para pensar, refletir e colocar em cena minhas emoções e sentimentos", diz. Talvez por essa razão, a peça comece com a solidão. "Busquei aspectos presentes no cotidiano feminino. Trouxe à cena algo que marcou a minha vida: o nascimento de minha filha, ser mãe é o ponto alto na vida das mulheres." Há uma divisão clara em cinco momentos: a busca pelo amor, a realização e a maternidade, a loucura, a solidão e a plenitude. "A utilização de uma dramaturgia auxilia no equilíbrio entre a dança, o sapateado e os movimentos típicos do flamenco, para a execução do enredo", comenta. A coreografia possui no primeiro ato elementos narrativos, fala da busca do amor de um homem, o nascimento de um filho - com direito a uma gravação com a voz da filha de Eva, a pequena Carmem Manuela, de 7 anos -, enfim, trata das dores e alegrias a que todas as mulheres estão sujeitas. No segundo ato, explora a sua técnica do flamenco. Uma escolha que denuncia um estilo próprio. "Não sou aficionada pelo purismo, que leva ao palco apenas dança, violão, voz e nada mais. Porém, não quer dizer que eu não me detenha à técnica e à tradição", observa. "Busco referência em artistas como Paco de Lucia, um dos responsáveis pela transformação do flamenco. Creio que realizo uma dança séria, com linguagem contemporânea." As influências param por aí. Toda a movimentação cênica é criada a partir da música, composta por Paco Jarana, seu marido. "As canções são a base para a criação e articulação dos meus movimentos, não existe flamenco sem bons músicos." Sete músicos cuidam da trilha sonora. Outro aspecto relevante no trabalho é o envolvimento emocional. "Não gosto de criar somente com a técnica, acredito que em uma dança como o flamenco seja fundamental a explosão das emoções", avalia. Para Eva, é importante que haja espaço para improvisos, momentos abertos aos novos movimentos e ações intempestivas. "É necessário que o artista busque o equilíbrio entre a sua empolgação com a tradição." Momentos - Em outubro, Eva participou das comemorações do festival realizado por Pina Bausch em Wuppertal, na Alemanha, ao lado do cineasta Pedro Almodóvar. "Pina é uma das artistas que mais admiro, porque sabe usar sua sensibilidade e transmiti-la ao público", conta. A bailarina também atuou no cinema, em Flamenco Womem, do diretor britânico Mike Figgis. Também faz uma ponta no filme Hotel, do mesmo diretor, que possui um elenco com nomes como John Malcovich, Julian Sands, Burt Reynolds e Ornella Mutti, entre outros. "Foram duas experiências interessantes porque Figgis me deixou muito à vontade em frente das câmeras. É uma pessoa que respeita os artistas, abre espaço para improvisações e sugestões", lembra. Outro bom momento foi o Prêmio Nacional de Dança. "Um reconhecimento pelos meus 20 anos de carreira, além de abrir portas aqui na Espanha e em todo o mundo." Atualmente, trabalha duro para a estréia de Estado de Ausência - nome provisório de uma peça que conta a história de um amor que jamais se concretizará. Eva nasceu em Frankfurt, na Alemanha, "um acidente", brinca. Foi criada em Granada e aos 12 anos, por incentivo de sua mãe, começou a dançar. "Decidi que seguiria a carreira como bailarina de flamenco após a morte de minha mãe. Foi aí que tomei coragem de ir para Sevilha e dar continuidade à minha formação." Eva também atuou em Cuba, chegou a dançar com Joaquin Cortez e desde 1988 dirige sua própria companhia.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.