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Eu acho...

Eu tenho um problema sério. Sou melhor em botar em dúvida a sua opinião do que em dar a minha. Sou um bom advogado do diabo, mas não sou um bom diabo. Sempre me lembro de argumentos bem depois da discussão ter acabado, tal qual aquele personagem do Jô. Percebendo isso, fiquei muito na dúvida se deveria desenvolver mais o meu lado opinativo, ou se deveria apostar todas as fichas logo em ser um “colocador de lenha na fogueira”.

Por Fábio Porchat
Atualização:

Não que eu não tenha opiniões, tenho, mas não sou muito bom defensor delas. Me sinto como um irmão mais novo que, quando sai briga na escola, só ganha se o mais velho vir acudir. Sempre que começo a formular minha observação, não consigo exprimir tão bem em palavras o que me parece tão claro na cabeça. Tento sempre me armar bem, leio muito, assisto entrevistas e pesquiso aqueles que compartilham do mesmo pensamento, mas, na hora de dizer na cara do meu “oponente” o que eu quero dizer, ele sempre ganha. Mesmo que as opiniões dele sejam péssimas, fáceis de serem derrubadas por qualquer bêbado de botequim, eu sempre acabo perdendo.

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Cheguei a cogitar a hipótese de sempre andar acompanhado do Dráuzio Varela e do Cristovam Buarque pra, na hora do desespero, eu recorrer aos universitários, mas acho que eles não topariam. Seria incrível. Eu diria: “Sou a favor do aborto! Fala aí porque, Dráuzio!” Um dia, cheguei a ligar para o Gregório Duvivier para ele aumentar meu arsenal durante um embate, mas deu caixa postal. Por isso que agora eu não acho mais nada, eu só questiono. É a melhor arma para tentar vencer uma discussão, porque você dá corda para a própria pessoa se enforcar e cometer o suicídio assistido.

Conforme você vai indagando, a pessoa vai se ouvindo e se complicando com seus próprios achismos e, no fim das contas, começa a titubear, porque, de um modo geral, são raros aqueles que têm uma opinião formada e super embasada. Claro que, contra um Silas Malafaia, um Bolsonaro ou uma Sherazade, você não consegue gerar nenhum tipo de auto percepção, mas com esse tipo de pessoa nem um Roberto DaMatta conseguiria mover uma palha. Com esses, a luta já começa perdida. Mas com a maioria das pessoas o resultado é bem interessante. Tente você. Pode ser com um parente, um amigo ou uma pessoa qualquer andando na rua. Na hora de dialogar, pergunte, não afirme, deixe que ela mesma se contradiga. Comece com um simples: por que mesmo que você acha que um casal gay não podem adotar?

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