Estréia A Flauta Mágica de Mozart no Municipal

Montagem de grande impacto visual é encenada nas comemorações dos 250 anos de nascimento de Mozart

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Por Agencia Estado
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Se está certo quem diz que a genialidade de Mozart reside no modo como quis expressar em uma só voz o cômico e o trágico, então "A Flauta Mágica "é prova de que ele conseguiu. Sua última ópera continua como favorita do público e dos teatros. Tem algumas das melodias mais conhecidas de seu autor, que transformou uma história aparentemente ingênua em uma das grandes criações ocidentais. E estréia amanhã (18), no Teatro Municipal de São Paulo, dentro da programação do festival "Mozarteando", em uma montagem que ressalta o aspecto mágico da obra. "A Flauta Mágica" é única dentro do universo de Mozart. Não é um drama ?giocoso?, como "Don Giovanni", nem uma comédia, como "As Bodas". E isso é fruto da sua extrema sensibilidade dramática. Música e texto precisam andar juntos e a partitura precisa sempre seguir o clima sugerido pelos momentos específicos do libreto", diz o maestro Jamil Maluf, que rege o espetáculo. "Essa proposta de um Mozart mais maduro, que sugere um canto que trabalha com o texto, é interessante", completa o diretor Cléber Papa, responsável pela concepção cênica do espetáculo. "A Flauta Mágica "já foi interpretada como uma história do bem contra o mal. Nela, Sarastro, o grande sacerdote de uma irmandade secreta e iluminada, rapta Pamina, a filha da Rainha da Noite, que manda o jovem príncipe Tamino em busca dela. Tamino, claro, se apaixona pela jovem. E passa a respeitar Sarastro como símbolo da verdade e da bondade, em oposição à malvada e invejosa rainha. Não precisa nem dizer que, no fim, Sarastro a derrota. Há muitas leituras possíveis para a ópera. De cara, ela pode ser vista como mais uma história em que o bem e o amor saem vencedores. Mas a irmandade de Sarastro já foi vista como uma alusão à maçonaria. Não precisa forçar a barra para ver por que. Tanto Mozart como seu libretista Emanuel Schikaneder pertenciam à casa maçônica. E a partitura está repleta de sugestões, como números importantes nos ritos maçônicos. Seria por acaso, por exemplo, que Monostatos entra, ao longo da cena 18, no 18º compasso, cantando exatamente mais 18 compassos? Cléber Papa acredita que sim. "Essa artesania, esse cuidado com os detalhes, dão outro significado à obra e reforçam sua individualidade perante os demais trabalhos de Mozart." Universal reedita registros históricos de Mozart lançados pela primeira vez em 1956, em homenagem aos 250 anos de Mozart Estamos em 1956 e os executivos da Deutsche Grammophon reúnem-se para discutir qual seria a melhor maneira de comemorar o bicentenário de Mozart. Decidem reunir a nata dos intérpretes do compositor e encomendar gravações das suas principais obras. O resultado: cerca de 800 minutos de registros que, não demorou muito, se transformaram em referências absolutas, posto que muitas delas ocupam até hoje. Voltamos a 2006. Um novo aniversário, agora 250 anos. O que fazer? Como de costume, apostar no passado, na segurança. E reeditar a "Mozart Jubillee Edition", em seis álbuns duplos, lançados no Brasil em edição nacional. É difícil saber por onde começar. As sinfonias por Ferenc Fricsay? Os quartetos pelos músicos do Amadeus? Os concertos para piano por Clara Haskil? Árias de óperas por Dietrich Fischer-Dieskau, Josef Greindl, Maria Stader? "O Réquiem" por Eugene Jochum? A música de câmara por músicos da Filarmônica de Berlim? Sobram preciosidades neste pacote, que é muito mais do que uma curiosidade histórica. Claro, só ter a chance de ouvir a lendária Clara Haskil, um Fische-Dieskau em comecinho de carreira ou ainda uma apresentação ao vivo do "Réquiem" em uma igreja alemã, já valeria a viagem. Mas uma audição atenta pode oferecer visões interessantes a respeito não apenas de Mozart, mas também dos artistas envolvidos na gravação Você pode criticar os executivo da Deutsche, hoje um braço de Universal, por não seguirem o exemplo de seus colegas de 50 anos atrás e investir em um pacote com proposta semelhante mapeando os grandes intérpretes atuais do compositor. E, se o fizer, terá toda razão. Mas não dá para dizer que não fizeram um bom trabalho ao reeditar este material. Às gravações originais foram acrescidas outras versões, feitas pelos mesmos intérpretes em anos e contextos distintos. Se aqueles eram os intérpretes referenciais desta música, por que não explorar um pouco mais a fundo o modo como se relacionaram com ela? E os textos dos encartes se ocupam de fazer essas relações. Os autores citam e comentam os textos que acompanharam as mesmas gravações em 1956. Explicam por que determinado artista foi escolhido quando, em alguns casos, haveria outras opções tão interessantes quanto. E, 50 anos depois, acaba ficando mais fácil se distanciar e interpretar com um pouco mais de objetividade o que foi a cena musical daquela época. É uma viagem das mais interessantes ao passado. Mas, prepare-se. O Mozart que você vai ouvir é muito diferente daquele com que acabamos nos acostumando. É que o compositor foi de lá para cá, um dos principais alvos do movimento que se chamou de Músiobrir comoca Historicamente Informada. A intenção era oferecer interpretações mais próximas da época em que as peças foram escritas. Em outras palavras, tentou-se limpar as partituras e as técnicas de todas as lições do século 19, voltando às épocas barroca e clássica para compreender como esta música soava na época em que foi composta. De forma que o Mozart que se ouve hoje é muito diferente daquele dos anos 50, quando a MHI ainda era um bebê em gestação. Mas a diferença aqui, no final das contas, acaba só ressaltando a genialidade de grande parte destas gravações. Elas são, sim, documentos históricos. Mas não ficaram datadas. O piano de Clara Haskil ou Anne Fischer, a regência firme e sempre presente de Fricsay, o senso litúrgico que Jochum dá ao "Réquiem" ou as interpretações que o Amadeus oferece para os quartetos, para ficar apenas em alguns exemplos, continuam sendo paradas obrigatórias para se conhecer Mozart. A Flauta Mágica. Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/n.º. Tel.: 3222-8698. Sábado, 2.ª, 4.ª e 6.ª, 20h30; dom., 17 h. De R$ 20 a R$ 40. Na 4.ª, de R$ 10 a R$ 20

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