Estranhos prazeres de David Cronenberg

CCBB estreia 'O Cinema em Carne Viva', mostra dedicada ao cineasta canadense

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Depois da grande retrospectiva de Vincente Minnelli, o Centro Cultural Banco do Brasil muda o foco e resgata outro grande de perfil completamente diverso. A estética de Minnelli coloca quase sempre o sonho em discussão. A partir de hoje, o pesadelo toma conta do CCBB. O cinema em carne viva de David Cronenberg. Desde o começo do ano, havia a forte expectativa de que o novo Cronenberg, "A Dangerous Therapy", iria participar da competição de Cannes, em maio. Cronenberg preferiu levá-lo ao Lido. Talvez achasse que suas chances seriam maiores em Veneza, mas era o ano de Alexander Sokurov, com o seu "Fausto". Uma terapia perigosa. O título aplica-se à própria obra cronenbergiana. Como Alfred Hitchcock e Sigmund Freud nasceram um para o outro, o pai da psicanálise e ele também se completam às maravilhas. "A Dangerous Therapy" baseia-se na peça de Christopher Hampton sobre a relação entre Freud e Carl Jung. Há um embate entre corpo e mente no cinema de Cronenberg. Seus personagens via de regra realizam experiências que produzem mutações em seus corpos e isso os transforma em aberrações aos olhos dos outros. Tem sido assim desde o começo da carreira de Cronenberg. Nascido no Canadá, em 1943, ele tinha 25 anos quando estreou com "Stereo". Dois anos depois, fez "Crimes of the Future" e, em 1975, "Shivers/The Parasite Murders", que no Brasil se chamou "Calafrios". Parasitas destinados a liberar a sexualidade invadem um prédio e provocam bacanais assustadoras. O sexo, em vez de prazer, vira terror para Cronenberg. Essa é uma tendência que percorre a obra inteira, basta lembrar dos instrumentos cirúrgicos com que o ginecologista Jeremy Irons investiga - tortura? - o interior de suas pacientes, em "Gêmeos - Mórbida Semelhança"; da rede especializada em pornôs de "Videodrome, a Síndrome do Vídeo" dos mórbidos prazeres de "Crash" ou da sexualidade 'inventada' de "M. Butterfly". A cena mais chocante de todo o cinema de Cronenberg talvez seja aquela de "Os Filhos do Medo" em que Samantha Eggar levanta a camisa e mostra como nascem as crianças mutantes e assassinas que, sob a orientação do psiquiatra Oliver Reed, estão dando vazão ao seu ódio. Carne viva, nervo exposto. As mentes são perversas, os corpos insaciáveis. A cada um seu Cronenberg. Nos últimos anos, a parceria do autor com Viggo Mortensen produziu pelo menos duas obras-primas - "Marcas da Violência" e "Os Senhores do Crime". Na obra do diretor, 'nada é verdadeiro, tudo é permitido', como a citação emprestada a William Burroughs, que ele adaptou em "Mistérios e Paixões". Todo Cronenberg deve revelar muitas preciosidades.

Veja o trailer de "Os Filhos do Medo" (1979), que está na mostra:

PROGRAMAÇÃO

Quinta, 21

15h30 - "eXistenZ"

17h30 - "Câmera" + "Videodrome"

19h30 - Palestra

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Quinta, 22

15h30 - "Calafrios"

17h30 - "M. Butterfly"

19h30 - "Crash"

Sexta, 23

15h30 - "Scanners"

17h30 - "Stereo" + "Crimes do Futuro"

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19h30 - Palestra

Veja a programação completa da mostra de David Cronenberg no site oficial

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