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Estética kitsch e latinidade no Rec Beat

Kumbia Queers e Felipe Cordeiro se consagram na noite do Mombojó

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Além dos desfiles informais de blocos de frevo, maracatu, caboclinhos e rodas de samba o Carnaval Multicultural do Recife, com suas alardeadas "mais de 3 mil apresentações", é um gigantesco festival descentralizado da diversidade musical brasileira. Incluído na programação, o festival Rec Beat é uma atração à parte e ganhou credibilidade, nesses 16 anos de existência, como o mais alternativo e interessante festival da cidade, apostando em nomes inéditos, correndo riscos e acertando na grande maioria das escolhas.Na edição de 2011 quem se consagrou diante da multidão que lotou o Cais da Alfândega nas duas primeiras noites do evento foram as bandas Baiana System (de Salvador), Kumbia Queers (Argentina) e o cantor e compositor paraense Felipe Cordeiro. O trompetista paulistano Guizado causou certo estranhamento (no bom sentido) e foi outra atração de grande impacto. Mais do que isso só os frutos da terra Mombojó (que ensandeceu o imenso fã-clube na madrugada de domingo) e o anárquico bloco Quanta Ladeira, que, como sempre, esculhambou com tudo e com todos em hilariantes paródias com letras carregadas de sexo, drogas e política (leia abaixo).Coincidência ou não, o humor e o erotismo também baixaram na programação noturna do festival, nos shows de Felipe Cordeiro e das Kumbia Queers. Desde o início, com a banda da pernambucana Patrícia Solis, a noite foi calibrada com ritmos calientes do Caribe e uma certa estética kitsch, quase bizarra no caso das argentinas - seja no visual do Mombojó, com as fantasias estilo Pokémon do clipe de Papapapá, que abriu o show, ou na proposta de Felipe, que se prepara para lançar o primeiro álbum, Kitsch Pop Cult.Com Felipe a domingueira começou a decolar, numa mistura de cumbia, lambada, guitarrada, calipso e carimbó. Além de uma encorpada banda, duas graciosas vocalistas de apoio e um mestre da guitarra paraense, seu pai Manuel Cordeiro, que foi um show à parte, Felipe contou com a participação da musa do tecnobrega Gabi Amarantos, que se consagrou nesse mesmo palco em 2010. Felipe e banda tocam em São Paulo no dia 15, no Sesc Pompeia, de graça. Vale a pena conferir.Depois dele, Guizado e seu power trio colocaram mais peso num show climático, inebriante, em que jazz, rock progressivo e frevo mantiveram a plateia de olhos atentos e cabeças viajando ao som do que alguém classificou como pop espacial. Céu participou em duas músicas. Uma delas, Flores, dos Titãs, fez o link com o hard rock latino da atração seguinte. Cumbia punk. Beneficiadas por boa parte da multidão que chegou mais cedo para ver o Mombojó, a banda argentina Kumbia Queers, formada por sete mulheres, botou a rua abaixo, com seu mix de cumbia, punk rock e heavy metal, incluindo versões de These Boots Are Made for Walking, clássico do repertório de Nancy Sinatra, e La Isla Bonita, de Madonna, com o charango virando guitarra. Teve gente pulando, rebolando e batendo cabeça ao mesmo tempo. A massa pediu mais e teve bis. A essa altura já eram 25 mil pessoas que ovacionaram o Mombojó, que abriu o show tocando uma música de cada um de seus quatro álbuns para celebrar os 10 anos de carreira, e terminou com uma versão incendiária de Deixe-se Acreditar, com participação de Otto.No sábado, o destaque foi a banda Baiana System, de Salvador, liderada pelo guitarrista Robertinho Barreto e com Russo Passapusso como vocalista. Misturando frevo com ska, ijexá e dub, samba-reggae, dancehall com samba duro, cumbia e guitarrada, o som da banda cresce absurdamente ao vivo e caiu no gosto dos pernambucanos. Produtor, DJ e engenheiro de som da Nação Zumbi, Buguinha Dub, que tinha tocado antes com Lourdez da Luz, deu o toque: "Baiana System está fazendo com a música da Bahia o que Chico Science e Nação Zumbi fizeram com a de Pernambuco". O apresentador do Rec Beat confirmou: "Essa é a Bahia que a gente gosta".

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