Estante da Semana: Julian Barnes, Antônio Torres?

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Por Agencia Estado
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Entre os lançamentos de livros, Nicodemus Pessoa indica as memórias de Stella Adler sobre sua vivência entre alguns dos grandes nomes do teatro do século XX; um novo romance do inglês Julian Barnes, com os mesmos personagens de seu livro anterior; uma antologia de crônicas, com textos de quatro mestres da arte; e uma nova edição do livro de estreéia de Antônio Torres. MEMÓRIAS PRECIOSAS DA VIDA TEATRAL A norte-americana Stella Adler nasceu em Nova York, no longuínquo 1901, filha de Sarah e Jacob Adler, um dos maiores atores do teatro ídsiche. Começou sua carreira de atriz aos cinco anos - isso mesmo, magrelos cinco anos -, e nunca mais afastou-se do palco. Tornou-se, ao longo da vida, uma lendária professora de representação. O que ela oferece em Chekhov, Strindberg, Ibsen (Bertrand Brasil, 378 páginas, R$ 49,00), que acaba de ser lançado, é exatamente sua memória de vida, desenvolvida em torno da arte teatral. A forma meticulosa como analisa o teatro, desde os seus primórdios, constitui o principal alicerce de seu estudo e serviu de fonte de inspiração para a eclosão do talento de vários atores. Stela Adler relata seu aprendizado em Paris com o mestre Stanislavsky, quando teve a oportunidade de estudar e entender por completo o seu método. Ela foi uma dama da velha escola, que assimilou de seu mestre a importância da autenticidade do representar e de como o teatro funciona como elemento de transformação. No curso de meio século seguinte ela treinaria milhares de atores, em cujo trabalho posterior está presente seu legado: muitos deles seguiram carreira no palco. Outros tornaram-se diretores, dramaturgos, técnicos e professores. Alguns formaram suas próprias companhias, que hoje fazem parte do renascimento do teatro regional americano, enquanto outros, como Marlon Brando, Robert de Niro e Harvey Keitel, foram para Hollywood e se tornaram atores de cinema. UM NOVO LIVRO. MAS COM OS MESMOS PERSONAGENS. O escritor inglês Julian Barnes está de novo em evidência com Amor, etc. Nele, os personagens são os mesmos do seu Em Tom de Conversa: os amigos Oliever, o boêmio irresponsável mas espirituoso, e Stuart, o bancário gorducho e sem imaginação. Dez anos depois, Oliver e Stuart estão de volta. O romance (Rocco, 208 páginas, R$ 25,00) começa com o retorno de Stuart a Londres, depois de uma longa temporada na América, onde teve uma experiência bem-sucedida na direção de uma empresa de produtos orgânicos. Ele se casou e se divorciou novamente, mas adquiriu uma aparência renovada pelos exercícios físicos e pelo dinheiro. Barnes utiliza a trajetória dos dois personagens para explorar o difícil e perigoso território do coração humano, numa trama em que o equilíbrio delicado entre o risco e o desespero transforma o que poderia ser mero divertimento em pura arte. CUIDADO, EMPRESÁRIO, COM CERTAS REGRAS. Um livro totalmente contrário ao que ditam as bíblias da literatura de negócios. Em Destruição Criativa (Campus, 456 páginas, R$ 79,00), Richard Foster e Sarah Kaplan destroem o mito de que as empresas feitas para durar podem continuar a manter a excelência e permanecerem competitivas ano após ano. Suas conclusões baseiam-se em uma pesquisa realizada para a McKinsey & Company com mais de mil empresas, em 15 setores, por um período de 36 anos. Para Foster e Kaplan, o medo é o fator preponderante por trás do fracasso das empresas mais antigas e estabelecidas no mercado - medo de abandonar velhas fórmulas para que possam efetuar as mudanças necessárias e sobreviver em uma nova realidade. E a melhor estratégia de sobrevivência, segundo eles, é aprender "a arte da destruição criativa", em que o novo elimina o velho, modelos inovadores de negócios destroem estruturas clássicas. Os estudos de longo prazo dos autores mostram que o equivalente corporativo do Eldorado, ou seja, a empresa de ouro que continuamente supera o mercado trata-se de um mito. Nunca existiu. Demonstram que as empresas, cuja administração se baseia na suposição da continuidade, a longo prazo não conseguem criar valor no ritmo e escala dos mercados. UMA PEQUENA ANTOLOGIA DE CRÔNICAS. QUATRO MESTRES. Um livro que acaba de chegar à 3ª edição. Em O Melhor da Crônica Brasileira estão textos de Ferreira Gullar, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Sergio Porto! De Gullar, Lins do Rego e Rachel a pequena antologia reúne vinte e uma crônicas. Sete de cada um. Mas o mestre do humor Sergio Porto, o grande Stanislaw Ponte Preta, mereceu em O Melhor da Crônica Brasileira (José Olympio, 142 páginas, R$ 19,00) espaço bem maior. Nada menos de vinte textos com os seus personagens caricaturais. O leitor irá deliciar-se com as histórias de Tia Zulmira, do Primo Altamirando e do coronel Iolando. O GRANDE PODER DE GUERRA DO OCIDENTE O autor, Victor Davis Hanson, é historiador militar e professor da Universidade Estadual da Califórnia. Em Por que o Ocidente Venceu/ Massacre e cultura ? da Grécia antiga ao Vietnã, agora lançado no Brasil, ele recria nove confrontos importantes entre exércitos ocidentais e não-ocidentais e tenta, assim, explicar as razões para a dominação global do Ocidente. Segundo Hanson, a ascensão do Ocidente é um resultado lógico do seu dinamismo expressado em seu modo de guerrear. O livro (Ediouro, 703 páginas, R$ 79,00) enumera as características dos exércitos bem-sucedidos ? que incluem iniciativa individual, melhor organização, maior disciplina, acesso a armas exclusivas e, ainda, adaptação e flexibilidade tática. Mostra também de que maneira essas características desenvolvem-se e florescem como resultado de instituições tão tipicamente ocidentais quanto o governo consensual, a liberdade de investigação e a iniciativa inovadora, o racionalismo e o valor dado à liberdade e ao individualismo. Esses são os segredos para a imposição de ideais sociais, econômicos e políticos às civilizações oponentes. O autor não tem, no entanto, a pretensão de explicar a natureza e evolução geral da civilização ocidental como um todo, apesar de discutir questões mais amplas sobre governo, religião e economia. Seu objetivo principal é simplesmente explicar o poder militar ocidental. Por que o Ocidente Venceu não foi escrito para especialistas acadêmicos, mas sim para o leitor geral, podendo este ser especialista ou não, e tem o intuito de oferecer uma síntese da sociedade ocidental em guerra ao longo de 2500 anos de História. O CÃO DE ANTONIO TORRES, EM NOVA EDIÇÃO. Foi com Um Cão Uivando para a Lua que Antônio Torres estreou na literatura, em 1972, sendo imediatamente aclamado como "um talento explosivo" (Leo Gilson Ribeiro, revista Veja), "um senhor ficcionista", segundo Jorge Amado, e "a estréia mais significativa" daquele ano (Hélio Pólvora, Jornal do Brasil). O livro (Record, 192 páginas, R$ 25,00) fez mais do que surpreender os meios literários: foi também um sucesso de público. A crítica recebeu-o com um entusiasmo raro para um estreante, destacando a coragem do seu depoimento e a força da sua linguagem, cuja "sadia agressividade" servia de forma adequada à contundente mensagem da trama. Lançado por uma pequena editora chamada Gernasa, Um Cão Uivando para a Lua viria a causar um grande impacto. Foi saudado pelo jornal O Estado de S. Paulo como "a revelação do ano". Para rememorar essa "estréia tão feliz", nas palavras de Aguinaldo Silva, no extinto Opinião, vejamos o que disse O Globo da estréia de Antonio Torres, em 26 de novembro de 1972: "Ninguém sabia quem era Antônio Torres, embora este seja uma das maiores revelações de escritor surgidas no Brasil ultimamente. Este romance de estréia tem uma força surpreendente e atinge em certos trechos a altura da melhor ficção nacional. A linguagem realista, seca e coloquial, e a riqueza de situações fazem esperar desse autor obras ainda mais importantes." O que se confirmou. Hoje, com mais de uma dezena de títulos publicados, Antônio Torres figura entre os escritores brasileiros mais respeitados e mais lidos, com muitos prêmios, sucessivas edições e traduções em vários países. Mas tudo começou mesmo há trinta anos, com Um Cão Uivando para a Lua, que acaba de ser relançado.

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