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Espírito ROCKER nos metais de Andrews

Trombone Shorty rebate acusações de ser um 'traidor das tradições'

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Trombone Shorty já esteve três vezes no País, mas nunca com o status que desfruta agora, de estrela internacional. Curioso que o menino prodígio de New Orleans desembarca no Brasil poucos dias antes da semana em que se completam 5 anos do dia em que sua cidade foi completamente devastada pelo Furacão Katrina, em 30 de agosto de 2005. Nada a lamentar: New Orleans está quase inteiramente recuperada, com o turismo rendendo cerca de US$ 7 bilhões por ano (e a música segue como foco central). Shorty, no entanto, diz que ainda há muito o que melhorar para os músicos, que dão o toque de excelência cultural à sua terra. "Muitas bandas jovens ainda tocam por gorjetas." Não é o caso do ex-baixinho: sua agenda, até o fim do ano, o leva a Hamburgo, Viena, Nancy, Colônia.Ouvi dizer que há músicos mais tradicionalistas de New Orleans que consideram você um traidor das tradições da região.Não sei o que dizer. Não posso mais tocar como tocava Louis Armstrong, a vida mudou. Não é só porque eu cresci em New Orleans que vou tocar como tocavam há 50 anos, 70 anos, tenho de correr meus próprios riscos. A geração que vier depois de mim vai querer saber como é que a minha geração falou do seu tempo. E não é só porque toco trombone que tenho de tocar jazz. Portanto, não sei o que isso, traição, quer dizer. As pessoas jovens estão interessadas em música, mas na música do seu tempo. O hip-hop me é interessante, embora seja diferente daquela música que meu avós tocavam. Eu não posso fazer um gumbo musical só porque é isso que esperam. Além do mais, é preciso observar que Charlie Parker não fez uma música voltada para trás, ele avançou no tempo, assim como Dizzy Gillespie e Miles Davis. Miles criou a fusion, aproximando o jazz e o rock, e também foi seduzido pela eletrônica. Nesse momento, eu estou desenvolvendo aquilo que eu acredito que sou, com todas as contradições que isso tem, com a vibração da modernidade. Sou influenciado por muitas coisas, e não só pelo Mardi Gras da infância.Mas você não se afastou de New Orleans, continua vivendo lá. Essa proximidade é importante?Acho que, por ser um nativo da região, tudo que vivenciei é importante na minha forma de expressão: a linguagem, as palavras, a comida, a cultura. Minhas memórias de quando era criança são sempre recheadas de música, e isso não é irrelevante. É por isso, inclusive, que vivo lá até hoje. É uma grande honra, por exemplo, ter hoje um músico como Allen Toussaint tocando no meu disco, porque ele é uma espécie de lenda local, ele me ajudou a crescer e tem responsabilidade no que sou. Além de ser uma tremenda pessoa.E as condições da cidade após 5 anos de Katrina, para os músicos, melhoraram?Há sempre bons lugares para tocar, mas talvez falte alguns pontos mais profissionais, que paguem melhor. Nós respiramos música nesta cidade: funk, blues, rock. É um paraíso para mim. Você pode achar bons clubes para todos os tipos de música. Mas ainda há muitas boas bandas jovens que tocam por gorjeta. É como no Brasil, não se reconhece ainda o valor da música como fomentadora. Eu amo a música brasileira, mas ainda não tive tempo para conhecê-la como eu quero. Já ouvi muito os caras que tocam no Bourbon Street, são grandes músicos. Quero tocar mais aí, fazer mais jams, e quem sabe no meu próximo disco eu possa incorporar algo dessa sua música fantástica ao meu trabalho.De repente, você virou um hype absoluto. Como vê isso?Sinto-me gratificado, é uma bênção para mim. Mas não me assusto nem me deslumbro: trabalhei isso a minha vida inteira. QUEM É TROMBONE SHORTYMÚSICOTroy Andrews nasceu no famoso bairro Tremé (pronuncia-se Tremei), considerado um dos maiores celeiros musicais dos Estados Unidos. Aos 4 anos, ele pegou o trombone do irmão, James, e saiu pela rua arrastando o instrumento, acompanhando uma parada. O trombone era maior que ele, o que originou seu apelido. Também é primo de Glen David Andrews, outra fera do trombone.

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