Local onde se acredita que estão os restos mortais do escritor
ALFACAR, Espanha - Um grupo de trabalhadores se prepara nesta quarta-feira para exumar uma fossa comum onde se acredita que estão os restos mortais do poeta e dramaturgo Federico García Lorca. A ação é vista como um marco na campanha da Espanha para abordar o legado da Guerra Civil (1936-39).
Não está claro se os restos do escritor serão identificados, pois a família se opõe à exumação. A meta é encontrar e identificar os restos de vários homens que, como García Lorca, foram executados nos primeiros dias da guerra e enterrados com ele.
O trabalho ocorrerá na remota colina perto da cidade andaluz de Granada, no sul espanhol, onde os homens foram executados por membros de uma milícia leal ao general Francisco Franco.
A guerra, que ainda divide os espanhóis, gerou uma disputa das forças de direita encabeçadas por Franco, que se insurgiram contra um governo republicano de esquerda democraticamente eleito. A direita venceu e instaurou uma ditadura liderada por Franco, que durou até a morte dele em 1975.
O conflito e a crise subsequente deixaram um balanço estimado de meio milhão de mortos, com atrocidades dos dois lados. O governo de Franco ordenou um minucioso levantamento dos civis executados por milicianos republicanos e deu a essas vítimas enterros dignos. O juiz espanhol Baltasar Garzón já disse, porém, que as forças de Franco nunca prestaram conta por 114 mil civis assassinados.
O caso de García Lorca é um dos mais conhecidos, pois ele é o mais aclamado poeta espanhol do século XX.
Um grupo chamado Associação para a Recuperação da Memória Histórica trabalha desde o fim dos anos 1990 para ajudar os espanhóis a localizar onde estão enterrados seus entes queridos desaparecidos na guerra. Até agora, a entidade afirma ter identificado 1.700 personas.
A fossa será exumada a pedido de familiares dos homens que, acredita-se, foram enterrados junto ao poeta: Francisco Galadí, Joaquín Arcollas e o toureiro Dióscoro Galindo. O trabalho pode durar meses.
Especialistas forenses, entre outros, esperavam começar a escavar na tarde desta quarta-feira, segundo Javier Giraldez, um porta-voz do departamento de Justiça de Andaluzia, região que inclui Granada.
A família de García Lorca se opõe à exumação, argumentando que o escritor não deve ser distinguido quando tanta gente morreu nas mãos das forças de Franco. Os familiares do poeta dizem preferir que os restos dele permaneçam intactos. Mas a família disse neste mês que eventualmente pode fornecer mostras de DNA para ajudar na identificação.