Onze anos depois de criar Marilu, a escritora Eva Furnari se vê repensando a forma de enxergar a vida. Nosso olhar, diz, às vezes está próximo da realidade, outras vezes não. Aos 63 anos, Eva discorre sobre a necessidade de cuidar do próprio olhar. "Ver a vida de forma negativa é como um mau hábito; o bom é que ele pode ser modificado." Para relançar Marilu, agora pela editora Moderna, Eva mexeu um pouco no texto - na forma, não no conteúdo. E manteve as ilustrações, também de sua autoria. Apenas a capa foi modificada. "A história é exatamente a mesma, mas a gente muda depois de tanto tempo. A própria história amadurece", conta Eva, escritora e ilustradora de mais de 60 livros e criadora da Bruxa, personagem que encanta crianças de várias gerações. Em Marilu, Eva brinca com a simbologia das cores para modificar a perspectiva da menina, que achava o mundo chato, monótono, sem graça. Para ela, as nuvens eram bobas e as montanhas, cinzas. Vivia aborrecida e submersa em uma existência sem cor até se deparar com uma garota que carregava uma incrível lanterna multicolorida. Marilu sai, então, em busca da loja vermelha onde o objeto havia sido comprado e lá conhece os irmãos Pimpolhos. Alegres, entusiasmados e desafinados, eles a desconcertam com suas músicas cheias de rimas. A menina escolhe a sua lanterna - a mais colorida de todas -, mas, ao pegar o caminho de volta, descobre que o objeto se tornara cinza. Quando volta à loja para reclamar, os irmãos mostram que o problema não está na lanterna, mas no seu modo de ver as coisas. Não é um discurso moralista que induz a mudança do comportamento de Marilu, mas sim o bom humor, o jeito com que os irmãos riem da vida. A guinada ocorre quando a menina encontra os irmãos, seres meio mágicos que falam por meio de poesia, o que contrasta com a prosa que domina o texto. As ilustrações de Eva desempenham um papel fundamental na construção da história e na criação dos efeitos de humor. Ver o lado bom das coisas, diz Eva, deve fazer parte de um esforço consciente. "Tento fazer isso com a minha própria vida. O humor, a estética e a poesia abrem portas da alma, do coração. Todo mundo quer uma vida mais leve. Não fui sempre assim, mas fui me desenvolvendo."