Fisicamente, o escritor Pedro Juan Gutiérrez não parece um cubano típico. É mais contido e mais claro que seus conterrâneos, mas seus livros (Trilogia Suja de Havana, O Rei de Havana, lançados no Brasil, e Animal Tropical) falam de gente que só poderia morar lá. São pessoas vivendo na pobreza, mas que não desanimam nem perdem a alegria e a garra de viver. As exceções são os protagonistas do primeiro e do último livros. Não por acaso, ambos se chamam Pedro Juan e afogam a raiva e a frustração em sexo e na bebida. "Escrevi a Trilogia entre 1994 e 1997, época em que vivia uma crise pessoal e Cuba, uma crise econômica", conta ele que faz palestra, nesta terça-feira, às 19 horas, na sala 4 do Espaço Unibanco, em São Paulo. "Não foi um projeto intelectual e, sim, um desabafo sobre a situação que enfrentava. Bem ao contrário dos outros livros, que partiram de um plano preestabelecido." Gutiérrez veio ao Rio para a 10.ª Bienal do Livro. Diz que seus personagens estão nas áreas pobres de todas as cidades. Conheceu-os em seus 26 anos de jornalista. "Muito do que apurava não era publicado e foi se acumulando até que tive de escrever os livros." Apesar do sucesso fora de Cuba, seus livros não foram publicados na ilha de Fidel Castro. "É o meu sonho, mas nenhuma editora se interessou", diz. Mesmo assim, os livros circulam em Cuba, em edições espanholas, e Gutiérrez reconhece ser amado ou odiado com intensidade. "Faço uma literatura desrespeitosa e sei que não agrado a todos", diz. "Mas a literatura existe para fazer pensar, emocionar e deixar algum resquício em quem lê. Só assim vale a pena."