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Escritor britânico Ian McEwan afirma ansiar por privacidade

"Acho que todos os escritores precisam se proteger igualmente contra críticas devastadoras e superlativos elogiosos", disse o autor de Reparação e Amsterdam

Por Agencia Estado
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Pode parecer um desejo inesperado, em se tratando de um homem que está divulgando seu novo romance, On Chesil Beach, mas o premiado escritor de 58 anos passou os últimos seis meses cansativos sob o olhar constante do público. McEwan ganhou o Whitbread Award de 1987 e o Booker Prize de 1998, além de ter recebido uma indicação ao Booker Prize de 2002, por seu romance Reparação. Em novembro passado ele foi obrigado a refutar sugestões de que teria plagiado a obra de outra pessoa. Dois meses mais tarde, foi revelado que ele tinha um irmão cuja existência desconhecera por anos, que foi abandonado ainda bebê por sua mãe depois de nascer fora do casamento. "Sinto que um período de obscuridade me faria muito bem", disse McEwan em entrevista à Reuters. O autor dos livros aclamados Reparação e Amsterdam disse que se sente desconfortável sob os holofotes da mídia. "Não é nada agradável. O mundo parece encolher, mas isso não dura muito tempo. É a inquietação da imprensa que, por um lado, pode nos fazer ficar confusos, mas é também a coisa que nos salva, porque o monstro precisa ser alimentado. Depois de mastigar você um pouco, ele o cospe para fora." Em 2002 McEwan descobriu que seu irmão, cujo nome de adoção é David Sharp, foi dado em adoção pela mãe de ambos em 1942, quando tinha poucas semanas de idade. Sharp revelou seu segredo à imprensa em janeiro. A mãe de McEwan, Rose, engravidou ao ter um caso extraconjugal com David McEwan durante a 2.ª Guerra Mundial, quando seu marido estava lutando na guerra, e decidiu dar o bebê em adoção. Depois de seu marido ser morto na guerra, ela se casou com McEwan. Em 1948, o casal teve outro filho, Ian McEwan. "Acho que a descoberta não afeta a opinião que tenho de meus pais, mas lamento muito que eles tenham morrido sem sentir-se à vontade para falar dessas coisas", disse o escritor. "Eles não conseguiram falar sobre isso mesmo depois de já ser algo do passado distante, e isso me leva a crer que o fato ainda os perturbava." McEwan disse que ficou feliz quando Sharp finalmente o procurou, se bem que, em 2002, já era tarde demais para uma reconciliação. Seu pai já tinha morrido e sua mãe estava sofrendo de demência senil e não reconheceu seu filho perdido por muitos anos quando o viu. "Não faço um julgamento severo dela", disse McEwan. "Seria preciso ter vivido uma guerra, mergulhado nas atitudes sociais da época, para compreender." Desconfiança e respeito McEwan rejeita sugestões de que tenha plagiado a obra de Lucilla Andrews quando escreveu Reparação, mas admite que fez uso dos relatos dela de um hospital durante a 2.ª Guerra Mundial. "Quando você fala de procedimentos médicos de 60 anos atrás, e especialmente quando fala de soldados feridos pela guerra, é preciso obter relatos em primeira mão", disse ele. "Mas é duro porque então você é acusado de desonestidade." Por enquanto, pelo menos, o escritor está se alegrando com os elogios da crítica a On Chesil Beach, romance sobre um casal jovem em 1962 que luta para romper os grilhões das convenções sociais e superar o constrangimento de sua noite de núpcias. Ele disse que quis tratar do início dos anos 1960, um período pouco tratado na literatura, logo antes de a revolução social e sexual transformar os comportamentos e modos de pensar dos jovens. "Eles viviam numa época em que conversar sobre dificuldades sexuais era simplesmente impossível", diz o autor sobre seus personagens na primeira sentença do livro. Na entrevista, ele acrescentou: "Se fosse seis anos depois, eles estariam enrolando um baseado e desfrutando a juventude como estado abençoado." McEwan está trabalhando no momento sobre um libreto de uma ópera sobre obsessão sexual e já tem o início de uma idéia para seu próximo livro, mas ainda não quer revelar o que é. On Chesil Beach consolida sua reputação como um dos maiores escritores do mundo. Recentemente o jornal The Sunday Times o descreveu como "o maior romancista britânico de sua geração", descrição que McEwan rejeita. "Gosto muito do trabalho de meus contemporâneos. Também sei que os holofotes estão voltados sobre mim neste momento. Na próxima semana, será a vez de Graham Swift, Kazuo Ishiguro ou Martin Amis, e vou ler coisas semelhantes sobre eles." "Acho que todos os escritores precisam proteger-se igualmente contra as críticas devastadoras e os superlativos elogiosos."

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