"Escolinha do Barulho" espera solução

A Record não renovou o contrato e as gravações pararam. Os atores, com medo do desemprego, torcem para que o programa volte ao ar

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Por Agencia Estado
Atualização:

Durante dois anos e meio, os comediantes que integram o elenco do humorístico Escolinha do Barulho, exibido às segundas-feiras, às 21h50, pela Record, estiveram tranqüilos com relação ao contrato assinado entre a emissora e a produtora independente Câmera 5, responsável pela produção do programa. Mas nos últimos cinco meses, depois que passou de diário para semanal e começou a ser reprisado, a produção foi interrompida e, conseqüentemente, muitos humoristas tiveram de sair do vídeo junto com a atração. "Cumprimos um contrato de dois anos e meio com a Record, que tem o direito de reprisar o programa por mais 30 meses", ressalta Homero Salles, diretor da Câmera 5, confirmando a informação divulgada pela assessoria de imprensa da emissora, que avisa não ter uma data prevista para o reinício das filmagens. "A emissora justificou a interrupção das filmagens em razão dos altos custos com a produção; além disso, precisavam de mais espaço na grade de programação", destaca Salles, que não divulgou o valor exato de cada capítulo, mas salientou que o custo unitário significava 70% do que a emissora gastava com um capítulo de novela. Por conta do contrato, que prevê os tais 30 meses de reprises, outras emissoras não demonstraram interesse em comprar os direitos e passar a exibir novos episódios da atração, que reunia antigos talentos do humor brasileiro, como Jorge Loredo (Zé Bonitinho, que tem feito participações especiais em A Praça É Nossa, do SBT), Marcos Plonka (Samuel Blaustein), João Elias (Salim Muchiba), entre tanto outros. Esse impasse acaba prejudicando os atores, uma vez que o formato do programa não pode ser levado para outras emissoras e, seus personagens, dificilmente serão utilizados em outras atrações. Hotel do Riso - Desde que a Record começou a exibir as reprises da Escolinha, apenas a Band manifestou interesse em reunir novamente o elenco da atração. A idéia era criar um novo projeto, que se chamaria Hotel do Riso. "Os personagens se revezariam fazendo palhaçadas como carregadores de malas, recepcionistas, arrumadeiras, e em outras funções. Mas para que o projeto dê certo, precisamos de patrocínio", revela o humorista Castrinho, que interpretava o Geraldo na Escolinha. Castrinho é uma exceção em comparação com seus colegas de humorístico, uma vez que continua trabalhando. Ao lado de Sônia Abrão, no vespertino A Casa é Sua, e da novelinha Caminhos da Fama, na Rede TV!, ambas também de uma produtora independente. "Infelizmente, muitos de meus colegas da Escolinha não tiveram a mesma sorte que eu e ficaram a ver navios", lamenta. Foi de Castrinho a idéia de criar a Escolinha, juntamente com a produtora GPM de Gugu Liberato e a Câmera 5. Um de seus intuitos era justamente "dar emprego" a si próprio e a outros atores veteranos que ficaram sem trabalho após o término das gravações da primeira versão da Escolinha do Professor Raimundo, na Globo. "Na época, fui até mesmo mal interpretado pelo Chico Anysio, que julgou a minha atitude como uma traição", recorda Castrinho. "Mas eu só estava ajudando grandes talentos a sobreviver". Férias forçadas - Nome conceituado do humor brasileiro desde os tempos de rádio, o ator Mario Tupinambá, o Bertoldo Brecha da Escolinha, não perdeu as esperanças de que o programa seja novamente exibido pela Record. "Enquanto isso, estou sendo obrigado a tirar férias forçadas", brinca ele, que ainda não recebeu uma proposta concreta de nenhuma emissora para voltar ao trabalho. Mas não são apenas as grandes feras do riso que começam a fazer falta aos olhos do telespectador. Novos talentos revelados pela Escolinha desapareceram de cena e, por enquanto, não estão sendo reaproveitados. É o caso de Araíde Rocha, que encarnava a personagem Giuliana Nostra. Após o último dia de filmagem do programa, ela voltou a exercer a profissão de jornalista junto à empresa de colunismo social da irmã, Ester Rocha, assessora de Gugu Liberato. "Toda vez que assisto às reprises, meus olhos se enchem de lágrimas", conta. "Aprender com gênios como Mário Tupinambá e Jorge Loredo foi uma experiência incrível para nós que estávamos começando na televisão. Além disso, o elenco era muito unido e sempre saía junto para almoçar e bater papo". Sem perder as esperanças - Aos 32 anos, Araíde Rocha lembra que sua primeira participação na televisão foi aos 19, no quadro Sonho Maluco, do extinto Viva a Noite, que Gugu Liberato apresentava nas noites de sábado, no SBT. Seu desejo era contracenar com Carlos Alberto de Nóbrega no banco da Praça. O sonho foi atendido e Araíde, ao lado de Carlos Alberto, inspirou-se nos trejeitos exagerados de uma vizinha italiana para poder criar a personagem. Depois disso, usou o vídeo para percorrer várias emissoras até ser chamada pela Câmera 5 para atuar na Escolinha como Giuliana Nostra. "Vida de artista não é fácil. Até conseguir o primeiro trabalho, somos obrigados a ouvir muitas vezes que ´fulano de tal foi tomar um cafezinho´. E, mesmo agora, com minha imagem sendo mostrada na televisão uma vez por semana, estou novamente na expectativa de conseguir um novo contrato. Mas continuo na batalha", avisa.

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