29 de junho de 2012 | 03h11
"Abertura é sempre um angústia. Vai ser a primeira vez que não vou fazer. Tive essa ideia louca e a galeria achou interessante", conta Neto, que sempre gostou de misturar "o sagrado da galeria com o pagão da festa". "Hoje o artista é mais importante do que a obra. Aqui, não: são as obras que têm a palavra. Vivemos numa sociedade da celebridade, o mundo da imagem, do objeto. Prefiro o mundo do 'entre'."
Esse universo está na nova exposição. Neto criou uma série de esculturas/instalações de crochê entremeando cordas multicoloridas de polipropileno e poliéster, material encomendado a uma loja na região da Saara (a 25 de Março carioca). Parte delas forma largas estruturas preenchidas por bolinhas de plástico. Duas são balanços de quase 4 m de altura e 60 quilos que pendem do teto, nas quais os visitantes podem se pendurar. Tudo segue de caminhão já montado, semana que vem, para SP. Um totem projetado especialmente para o espaço do galpão é a peça mais grandiosa, com 6,5 m de altura.
"São esculturas aventuras, nunca se sabe o que vai acontecer. Gosto de trabalhar com a mão, de mostrar como tudo é feito. Não tem nenhum segredo, não tem máquina por trás, é uma exposição unplugged", explica.
O título da mostra tem a ver com sua constatação de que "a cultura é parte da natureza". Não há, portanto, motivos para temores. O visitante pode entrar, se pendurar, sentir as texturas. Que não se espere conforto - o convite é para uma experiência sensorial e emotiva, não ao relaxamento. "É a diferença da arte para o design. Não estou fazendo sofás."
Neto contou com as mãos de seis assistentes, que se dedicaram ao crochê nas últimas três semanas. O primeiro contato com a técnica das vovós foi com a tia-avó Vera há quase 20 anos. Passou por outros materiais, como jérsei, poliéster e rede industrial, até fazer o caminho de volta, como se viu há dois anos na exposição Dengo, no MAM-SP, por sua vez um desdobramento de The Edges of The World, mostrada pouco antes em Londres (o périplo mais recente inclui paragens como NY, Monterrey, Oslo, Nantes, Madri e Roma).
"Um trabalho vai conversando com o outro. Nem sempre precisa haver interação do público. Com o olhar você já interage. Mas a interação física é muito importante. O escultor toca, vai desbastando", explica. "A mão é o olhar mais sensível. Artista e público deveriam estar mais próximos, não gosto da separação da arte e da sociedade."
A exposição será realizada simultaneamente na galeria, na Vila Madalena, e em seu galpão, na Barra Funda.
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