Epsódio dos "Simpsons" divide público

Entre perder os últimos minutos da praia de um fim de semana de sol glorioso e ver na TV Os Simpsons, passarem por apertos no Rio, o carioca ficou com a praia

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Por Agencia Estado
Atualização:

Entre perder os últimos minutos da praia de um fim de semana de sol glorioso e ver Os Simpsons, a família típica norte-americana, passar por apertos no Rio, o carioca ficou com a primeira opção. Na noite do último domingo, o canal pago "Fox" exibiu o episódio Blame it on Lisa, que causou polêmica em sua estréia em março, nos Estados Unidos. Tudo porque, na época, a prefeitura do Rio considerou a história ofensiva e ameaçou processar a produtora do programa e a emissora que o exibe. No fim, houve conciliação: a "Fox" avisou antes do episódio que a responsabilidade do conteúdo era de quem o criou e a prefeitura não deu maior importância ao fato que teve mais repercussão na imprensa do que nas ruas do Rio. "É mesmo... é hoje que passa a tal história dos Simpsons na televisão, mas eu não ia perder o show dos Doces Bárbaros na praia só por causa da polêmica que eles causaram", dizia o representante comercial Luiz Almeida, que preferiu ir a Copacabana com a família para aplaudir Caetano, Gil, Bethânia e Gal. "Bem, mas se eles falaram mal do Rio, a gente tem de reclamar mesmo." O secretário Municipal de Turismo, José Eduardo Guinle, que liderou a revolta contra o filme, não mudou de opinião sobre a impropriedade da história. "O problema não é nem colocar macacos no centro da cidade e uma escola de samba como se fosse uma instituição de ensino tradicional onde se toca e dança rumba imagem típica do País para o americano médio", avisa Guinle. "O que incomoda é colocar o brasileiro pobre como bandido, ligar um comportamento fora-da-lei e agressivo à falta de recursos materiais, como se houvesse uma relação necessária entre as duas coisas. Nesse sentido, o filme é de uma infelicidade completa." O advogado Renato Maschieritti, fã do seriado, riu muito da história, mas concorda com Guinle. "O episódio é meio racista e reacionário, pois mostra os meninos pobres como ladrões e a instituição que cuida deles como um lugar de anjos imundos. Ou seja, pobre, sujeira e bandidagem estão sempre juntos", teorizou ele. "A falta de informação sobre o Brasil também incomoda, mas os Simpsons não são uma família normal nem exemplo de comportamento. Pelo contrário, o legal da série é exatamente os erros que eles cometem e suas trapalhadas. Fica menos engraçado quando a brincadeira é com a gente." Desde o título, o episódio pode ser entendido como uma crítica às idéias preconcebidas sobre o Brasil. Blame it on Lisa parodia Blame it on Rio, filme dos anos 80, em que Demi Moore, linda e saída da adolescência, fazia caras e bocas para assediar o cinqüentão Michael Caine entre o Corcovado e o Pão de Açúcar, em meio a rituais de macumba ao som de maracas, realizados em torno de totens de ilhas do Pacífico erguidos em praias, lotadas de araras, macacos e outros bichos ditos tropicais. Era tão ruim que virou cult. De vez em quando, ainda passa na televisão para delírio dos fãs do trash. Já os Simpsons, ao tentar ajudar um menino pobre brasileiro, são assaltados, achacados pela polícia e por taxistas e enfrentam feras tropicais em plena cidade. "Vi por curiosidade porque todo mundo falou da história mas não consegui achar graça. É piada para americano", comentou a professora Maria Júlia Abreu Silva. "Se a prefeitura não tivesse chamado atenção para o episódio, acho que quase ninguém teria visto ou notado." Como não há medição de audiência para televisão paga, a "Fox" não informa quantas pessoas assistiram ao programa no Brasil. Nos Estados Unidos, falou-se em 11 milhões de pessoas, número algumas vezes superior ao alcançado aqui, onde a tevê paga tem cerca de 1,5 milhão de assinantes. Mas os Simpsons, sem dúvida, são um sucesso, embora não tenham emplacado na televisão aberta. A série chegou a ser exibida na "Globo" e hoje passa no "SBT", às 13 horas, com audiência que nunca ultrapassa um algarismo mais de um dígito.

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