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Enquanto os líderes faziam guerra...

Por Ramiro Zwetsch
Atualização:

A virada dos anos 60 para os 70 inspirou experiências jazzísticas em todo o continente africano. Se Mulatu inventou o ethio-jazz com uma mistura de sotaques latino e árabe depois de viagens para o Estados Unidos, o nigeriano Fela Kuti (1938-1997) também criou um gênero depois de visitar o país. Estimulado pela combinação do tradicional highlife com os improvisos de Miles Davis e John Coltrane e pelo funk de James Brown, ele criou o afrobeat - um mantra em forma de groove, com pontuação marcante dos metais, acento percussivo e improvisos. Gravou mais de 70 discos em pouco mais de 30 anos e transformou a música numa arma para combater e criticar o regime militar da Nigéria. Na África do Sul, o trompetista e compositor Hugh Mazekela também se apropriou do jazz para entrar para a história do país. Seus primeiros lampejos, ainda nos anos 50, seguiam os caminhos dos discos de 78 rotações que ele ouvia de artistas como Louis Armstrong, Count Basie e Sarah Vaughan. Nos 60, exilou-se em Londres após o massacre de Sharpeville - em que 69 pessoas foram assassinadas pela polícia, num dos episódios mais emblemáticos dos anos de Apartheid. Estudou música em diferentes escolas e cidades de vários continentes durante a década de 70, fez amizade com Dizzy Gillespie e voltou ao país natal apenas nos anos 90. Quase simultaneamente, outros músicos africanos adicionaram o molho próprio na receita jazzística e funkeada: Manu Dibango nos Camarões, Salah Ragab no Egito, Ebo Taylor em Gana, a Orchestre Poly-Rhythmo de Cotonou em Benin... Foram anos em que a África improvisou para compensar o sofrimento de guerras e miséria.

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