Encontro balança com muitas queixas

Com uma série de problemas, 3ª Feira Música Brasil recebe vaia do público

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Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Era reclamação para todos os lados. Público, músicos, intérpretes, produtores, empresários, representantes de delegações estrangeiras e até profissionais que trabalharam na curadoria da terceira edição da Feira Música Brasil, realizada entre quarta-feira e ontem, em Belo Horizonte, deixaram evidente sua insatisfação. O público se manifestou da maneira mais prosaica, com sonoras vaias, por vários motivos: interrupções de shows por causa do cronograma e do horário, falhas técnicas no som, apresentações muito curtas. Os shows de Ná Ozzetti e Rita Ribeiro, que encerraram a programação no palco principal no sábado à noite, foram os mais prejudicados em todos esses sentidos.Música boa, som ruim. Quem foi só no sábado na sede mineira da Funarte, nem poderia acreditar que em outras apresentações nas noites anteriores a qualidade do som estava excelente, apesar do altíssimo volume, batendo os 110 decibéis. Esse foi outro sério problema, que levou a organização do evento a tomar duas multas e o técnico de som de Otto, que não obedecia às regras de manter o som no limite de 80 decibéis, a receber ordem de prisão na sexta-feira. Já passava da meia-noite (horário limite que Gilberto Gil ultrapassou na noite de quarta, mas com volume mais baixo), quando Elza Soares apareceu de surpresa, ao lado de Bebel Gilberto, e começou a improvisar com Otto, mas seus microfones foram cortados. O público, que não sabia do que se passava nos bastidores, vaiou a organização e xingou o prefeito da capital mineira em coro estrondoso. Algo parecido sucedeu-se no sábado quando Mestre Vieira foi cortado bruscamente no show dos Mestres da Guitarrada, ao lado de Pio Lobato, e praticamente expulso do palco. O público ficou irado e sobrou mais uma vez para a inocente apresentadora segurar a enxurrada de vaias.Vitrine. O fato de a Feira ter tido grande (e merecida) repercussão pela edição passada, no Recife, despertou tanto o interesse da mídia, como de empresários e artistas. O número de delegações que vieram a negócio mais do que dobrou de um ano para outro, passando de 14 para 31. As inscrições de bandas e cantores para o edital que seleciona quem vai tocar no evento passou de 3 mil. Só que, como disse uma cantora, desta vez os organizadores se preocuparam mais com o negócio do que com a música em si. "Se era pra fazer desse jeito, melhor não fazer nada", disse.Outros assuntos relacionados a logística e falta de mão de obra especializada - como falta de tempo para passagem de som, traslado e hospedagem dos artistas - talvez não interessem ao público, mas acabam refletindo no resultado do que se vê e ouve no palco. Afinal são os shows que fazem com que a Feira - que se propõe a ser uma grande vitrine para o mundo, até com grande número de acessos na transmissão online em tempo real - se movimente.Um produtor, que roda o mundo em eventos semelhantes e praticamente todos os festivais nacionais de música, considerou essa edição da Feira um "desperdício de dinheiro". O telão de led "caríssimo", ao fundo do palco, em formato wide, projetando imagens ridiculamente distorcidas por conta da captação de câmeras incompatíveis, foi um dos mais evidentes exemplos de mau uso do dinheiro público (o evento é realizado pela Funarte - Fundação Nacional das Artes, órgão do Ministério da Cultura, com patrocínio da Petrobrás).Parte do público também se frustrou com o curtíssimo tempo de duração da maioria dos shows, entre 30 e 40 minutos. "Por que não colocam menos gente com apresentações um pouco mais longa?", questionava uma fã de Rita Ribeiro, que fez uma versão compacta de seu bem-sucedido Tecnomacumba. Defesa. O diretor executivo da Feira Música Brasil, KK Mamoni, ouviu as diversas queixas levadas pelo repórter, reconheceu falhas e fez sua defesa. A Feira este ano teve orçamento cortado pela metade em relação à anterior, abaixo dos R$ 3 milhões, segundo KK. Essa verba ainda não foi liberada e todas as decisões, para não cancelar o evento, foram tomadas em cima da hora. A grade de programação artística foi fechada uma semana antes. "Enfrentamos muitos problemas de falta de mão de obra em Belo Horizonte", diz KK. "Não imaginei que fosse ser assim. É o tipo de coisa que não dá pra gente ter controle. No Recife era diferente. Tivemos todo o apoio do governo estadual, da prefeitura. O apoio aqui foi muito tranquilo, não sujaram as mãos."Outro contratempo foi o impedimento de realizar os shows em praça pública (seria na Praça da Estação, onde Milton Nascimento se apresentaria ontem com convidados) com ingressos grátis "por conta da operação complicada que é aqui em Minas e por conta do corte de verba", segundo KK. Como cambistas não perdem oportunidade, alguns vendiam ingressos de R$ 2 por R$ 20.

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