"Emoção Art.ficial" expõe arte e tecnologia digital

Mostra no Itaú Cultural reúne trabalhos de 13 renomados media centers de todo mundo, além de obras do recém-criado Itaulab

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Por Agencia Estado
Atualização:

A exposição Emoção Art.ficial, que será aberta neste sábado no Itaú Cultural, reúne uma seleção de alguns dos mais inovadores trabalhos em tecnologia digital realizados em todo o mundo, permitindo que o público verifique os enormes avanços realizados neste campo que há pouco mais parecia ficção científica do que realidade. Não se trata de uma mostra ampla, nem de uma seleção temática, com curadoria unificada. Tampouco não se deve esperar uma exposição de conteúdo apenas artístico. Mas é exatamente essa diversidade que constitui um dos principais atrativos da mostra, ampliando seu raio de interesse para além dos limites do circuito cultural. Cientistas, pesquisadores e educadores podem encontrar na seleção de obras feitas em 13 renomados media centers de todo mundo e no recém-criado Itaulab um painel das mais distintas aplicações da tecnologia digital. Em vez de escolher a partir daqui quais seriam os trabalhos a serem mostrados, a equipe do Itaú Cultural (mais precisamente o trio composto por Ricardo Ribenboim, que até pouco tempo comandava a instituição; o gerente do Itaulab, Marcos Cuzziol; e seu produtor-executivo, Ricardo Oliveros) selecionou uma lista de instituições de diferentes países que conduzem um importante trabalho de pesquisa, desenvolvendo as potencialidades tecnológicas das novas medias. Coube a elas, e não aos organizadores brasileiros, escolher quais trabalhos as representariam no evento. Inicialmente, seriam 14 instituições convidadas, mas, por causa da crise decorrente do atentado de 11 de setembro, os EUA, que seriam representados pelo MIT, ficaram de fora. Essa exposição - a terceira realizada pelo instituto acerca da relação entre arte e tecnologia - também serviu de ensejo para inaugurar o primeiro media center brasileiro e reafirmar a vocação do Itaú Cultural de continuar dando total prioridade a esse tipo de pesquisa, quer no que se refere ao campo das expressões visuais, quer na área da educação. Não é à toa que a instituição investiu R$ 1,7 milhão para realizar a mostra e pretende transformar a iniciativa em evento bienal, provavelmente com mudanças dos participantes e variações de tema. O título Emoção Art.ficial já indica que esta primeira versão teve por principal objetivo mostrar que a arte digital, como se costuma pensar, não tem nada de fria e desumana. Como bem lembrou Oliveros, "a tecnologia é apenas um suporte e não uma linguagem". Portanto, é possível dar a ela uma enormidade de utilizações, que dependem dos objetivos de cada artista ou técnico. Na exposição é possível ver as mais diferentes tentativas de aproximar o homem da máquina (teclados e mouses são substituídos por interfaces menos mecânicas, como a voz e as mãos), de gerar um diálogo entre usuário e obra e, até mesmo, de fazer a máquina agir como um ser vivo. O trabalho da organização holandesa V_2 é um exemplo disso. Trata-se de uma engenhoca, munida de um sonar, que emite ruídos e se movimenta em função das pessoas que se aproximam dela. Graças a um programa específico, ela muda de humor. Quanto maior a agitação em torno dela, mais violentamente ela se move, atingindo o objetivo dos criadores de "potencializar os sentimentos e as emoções do público". Além disso, essa obra realiza um espécie de crítica ao poder crescente que as máquinas vêm ganhando no mundo contemporâneo. Afinal, elas podem ser programadas para agir emocionalmente, mas não podemos nos esquecer que elas não sentem e não pensam. Outro trabalho que lida com essa questão e que promete ser concorrido por seu lado provocador e voyeurístico é a obra interativa Cyborg Sex Manual, trazida pelo WRO Center, da Polônia. O artista Piotr Wyrzykowski criou virtualmente uma imagem em 3D na qual se pode ver (dos mais diferentes ângulos possíveis, que você mesmo determina usando um mouse) uma cena de sexo entre dois robôs. O que há de mais interessante e poético - talvez até um pouco piegas - em tudo isso é que ao longo da relação sexual os cyborgs vão adquirindo características humanas. Mais interativa ainda é a obra Talk Nice, de Elizabeth Vander Zaag (representante do Banff New Media Institute, do Canadá). Trata-se de uma instalação bastante irônica, sobre relações de poder. Partindo da idéia de que a entonação de voz de uma pessoa diz muito sobre seu comportamento social, a instalação propõe que o usuário dialogue (a conversa, no entanto, terá de ser em inglês) com duas adolescentes virtuais, literalmente treinando a modulação de voz necessária para ser bem aceito, para persuadir, conquistar ou comandar seus interlocutores. Outras intervenções que participam do evento têm finalidade mais educativa do que artística, como, por exemplo, o trabalho desenvolvido pelo Ars Electronica Futurelab para viabilizar a produção de games e outras aplicações de realidade virtual a custos bem mais baixos ou a solução criada pelos alemães da Art + Com, que permite consultar virtualmente um pergaminho japonês de 12 metros de comprimento, que recria uma rua comercial de Tóquio no início do século 19. Aliás, a possibilidade de suplantar os limites físicos e temporais parece ser o grande atrativo das pesquisas realizadas por quem se dedica a ampliar cada vez mais as possibilidades de se recriar virtualmente novas realidades por meio de bytes, pixels, fios e - porque não - enormes caixas cheias de circuitos e engenhocas que fazem mover esse mundo cada vez mais irreal e desafiador. Emoção Art.ficial. De terça a sexta, das 10 às 21 horas, sábado, domingo e feriado, das 10 às 19 horas. Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, tel. (11) 3268-1776. Até 13/10. Abertura às 19 horas.

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