Embate de palavras e silêncio

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten e GRAMADO
Atualização:

Tem havido diálogo intenso entre documentário e ficção, em Gramado 2010. Alguns filmes, como o de Patrícia Morán, que se pretende experimental, Ponto.Org, chegam a propor uma farra de suportes, tal a maneira que fundem tecnologias. Mas o interessante tem sido a oposição entre palavra e silêncio. Sylvio Back fez o filme mais verborrágico do festival, dando palavra a historiadores, descendentes de pelados (expropriados do Contestado) e até às vítimas dos massacres, invocadas por meio de médiuns espíritas, para entender o conflito ocorrido no Sul do País entre 1912 e 16. Mas a palavra excessiva - como intenção dramática, para reforçar o que permanecia secreto na historiografia oficial brasileira - é a exceção que O Contestado - Restos Mortais trouxe.O venezuelano Historia de Un Dia, de Rosana Matecki, prescindiu completamente de palavras. O colombiano El Vuelcro..., de Oscar Ruiz Navia, reduziu-as ao mínimo. E Patrícia Morán, tão atraída por suas pesquisas de imagens, banaliza os parcos diálogos de Ponto.Org, que terminam significando nada. Será interessante, daqui a alguns anos, reavaliar esta edição de Gramado por esse ângulo. Bons filmes buscaram um equilíbrio. Os momentos definitivos de Bróder, de Jefferson De, constroem-se em torno de palavras, e gestos. Cássia Kiss, com a mão no peito, dizendo que tem um pressentimento. Ailton Graça entregando a arma a Caio Blat. Em Minha Vida com Carlos, é a mãe que explica ao filho como o pai a fazia rir e, depois, como seria trair o exemplo de sua vida e morte, casando-se de novo. Não há como não se emocionar com essa força atribuída à palavra.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.