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Embargo jornalístico a príncipe Harry provoca polêmica

Por LUKE BAKER
Atualização:

Agora que o mundo todo sabe que o príncipe Harry, da Grã-Bretanha, está combatendo no Afeganistão, a questão que muitos se perguntam é se a imprensa errou ao manter isso em segredo por tanto tempo. Jornalistas estão acostumados a embargos. Quase todo dia, jornais, sites, rádios e TVs fazem acordos com governos, bancos centrais e empresas para segurar informações até determinado prazo, de modo que todos os veículos tenham acesso equânime à notícia. A Reuters, como outros grandes veículos, aceitou o embargo no caso do príncipe, por considerá-lo similar aos definidos para outras notícias, mesmo que este caso fosse mais complexo. Antes da invasão do Iraque, em 2003, um embargo semelhante foi mantido a respeito do momento exato da operação. No caso do envio de Harry à linha de combate afegã, o embargo apenas durou mais do que o habitual -- surpreendentemente, resistiu durante 10 semanas. Em uma série de reuniões no final de 2007 no Ministério da Defesa, a imprensa britânica e grandes veículos internacionais concordaram em não noticiar o envio de Harry ao Afeganistão. Em troca, receberiam fotos, vídeos e textos sobre suas atividades cotidianas, para serem divulgados no fim de sua missão, que deveria durar quatro meses. Houve relutância em aderir ao acordo, e muitos estavam certos de que o "entendimento," como foi chamado, seria rapidamente violado devido à violenta concorrência entre os tablóides locais, que seguem uma política que poderia ser chamada de "é furo ou nada". Mas, uma vez que todos aderiram, era questão de ver quem piscava primeiro, e caso todos resistissem o acordo poderia acabar funcionando bem para os interesses de todos -- ou seja, da imprensa, do Ministério da Defesa, de Harry, dos soldados que lutam com ele e do público, que acabaria vendo e ouvindo tudo ao cabo de quatro meses. De fato, todos os participantes do "entendimento" se mantiveram leais, mas a notícia vazou e os rumores ganharam força. Um site australiano fez uma menção em janeiro, mas não suficiente para que a história ganhasse força. Na quarta-feira, o jornal popular alemão Bild fez uma insinuação, mas novamente o governo britânico esperava que o burburinho se acalmasse. Até que o blog norte-americano Drudge Report descobriu o caso. "Depois que o Drudge divulgou, a notícia rapidamente se globalizou e o acordo basicamente acabou", disse o Ministério da Defesa na sexta-feira. Em poucas horas, os comentaristas começaram a questionar o acordo -- mesmo em veículos que haviam aderido. Jon Snow, apresentador do Channel 4 da TV britânica, escreveu em seu blog que o caso pode ser nocivo à credibilidade da mídia. "A gente se pergunta se os espectadores, leitores e ouvintes vão querer confiar novamente nos patrões da mídia", disse ele, que na sexta-feira sugeriu na rádio BBC que a cobertura do "caso Harry" está desviando a atenção de problemas mais importantes do conflito no Afeganistão. Tessa Mayes, analista de mídia do site Spiked Online, acusou a imprensa de aceitar um tratamento especial para os príncipes, o que faria sentido há alguns anos, mas não agora. "Eles não são mais crianças, são adultos, e não deveríamos fazer acordos de bastidores com a realeza", disse ela à TV Sky. "O papel do repórter não é se tornar uma ala informativa dos militares, é ter um grau de independência."

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