PUBLICIDADE

EMANOEL ESCULTURA DE UMA VIDA

Livro e mostra de obras recentes destacam a sua vocação múltipla

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Os 70 anos do escultor e diretor do Museu Afro Brasil são comemorados com o lançamento do livro Emanoel Araujo - Escultor, escrito por Paulo Herkenhoff, e a exposição Branco, Azul, Vermelho e Preto, que será aberta hoje, na Dan Galeria, reunindo 15 obras recentes do artista. A mostra é uma versão da apresentada recentemente na Galeria Darzé, na Bahia, com curadoria do editor Charles Cosac. Seu título faz referência às cores tradicionalmente usadas nas esculturas de Araujo, desta vez em relevos de madeira e peças de aço carbono, todas produzidas no ano passado.No livro, o crítico Paulo Herkenhoff destaca a múltipla vocação de Araujo, nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia, lembrando que foi com um volume de Dom Quixote, ilustrado por Daumier, que o artista iniciou ao mesmo tempo uma carreira de artista, bibliófilo e colecionador. Herkenhoff mostra que sua prática artística de cinco décadas está intimamente ligada ao impacto que a arte de Daumier exerceu sobre o garoto baiano de ascendência nagô, que viria a se tornar, além de escultor, um gravador construtivista e um Quixote na constituição de museus - primeiro, ao comandar a reforma da Pinacoteca do Estado, transformando-a numa instituição internacionalmente reconhecida e, depois, inaugurando o primeiro museu brasileiro dedicado à arte de origem africana.Para Herkenhoff, é um equívoco tratar a arte do escultor e gravador Araujo e do pintor Rubem Valentim como fruto exclusivo da tradição afro-brasileira. O crítico diz que Emanoel Araujo "deve ser entendido no contexto da segunda geração construtiva brasileira que se firma no início da década de 1960". Já classificada de "afrominimalista" por George Nelson Preston, professor norte-americano, pelo aspecto modular das obras e seu apego à simetria, a arte de Araujo, de acordo com o crítico, dialoga mais com a coluna infinita do romeno Brancusi, pioneiro da escultura abstrata, do que propriamente com os totens africanos, embora não despreze o sentido simbólico dessas estruturas-totens e revele apreço pela cor heráldica dos orixás.Parte do ensaio de Herkenhoff sobre a obra de Araujo é dedicada ao estudo da sua contribuição à gravura, ele que foi aluno de Henrique Oswald, filho de um dos precursores da modernidade gráfica no Brasil, Carlos Oswald. A xilogravura marcou a entrada do escultor no campo construtivo, segundo o autor do livro, que confronta sua arte ao trabalho de dois artistas afrodescendentes norte-americanos, Romare Bearden (1911-1988) e Gene Davis, particularmente com a justaposição de fragmentos de máscaras nas colagens de Bearden, um artista da Carolina do Norte que defendia a reprodução dos padrões da cultura africana na arte contemporânea americana. Outra correspondência traçada por Herkenhoff remete às relações de Araujo como o neoconcretismo de Lygia Pape.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.