
28 de janeiro de 2012 | 03h00
Exercícios Ilusórios, o primeiro romance do poeta paranaense Osvaldo Rodrigues, é um investimento ingênuo no poder da ficção que captura, de forma muito sensível, o papel da mentira e do autoengano na vida das pessoas. Partindo de um jogo literário em que o próprio Osvaldo se apresenta como narrador do livro, esse livro se encontra diluído entre duas energias: a de ser demasiado contemporâneo e literário, apostando em jogos metanarrativos, mas ser também carregado de imenso humor, que dilui qualquer leitura pretensiosa diante da estrutura de camadas de ficção que sustenta.
Ludoman Orni, o protagonista, leva sua vida como a maioria das pessoas: enquanto segue seu trabalho é habitado por histórias que conta para os outros e para si mesmo. No entanto, há um desejo: realizar o salto entre imaginar para si e escrever essas histórias, tornar-se escritor. Enquanto não toma coragem para largar seu trabalho, Ludoman escreve num caderno exercícios ilusórios em que cria fragmentos de relatos futuros. Parte do prazer da leitura é depreender, do que Ludoman escreve, a sua própria vida.
O romance inscreve-se em uma longa tradição de narrativas em que homens doentes de ficção escolhem se dissociarem da realidade. O exercício de Rodrigues poderia ser cansativo; contudo, a ironia tempera o livro. Empreendedor de fantasias, escritor tateante, Ludoman é uma esquisita adição na lista de sonhadores da literatura.
EXERCÍCIOS ILUSÓRIOS
Autor: Osvaldo Rodrigues
Editora: Ficções
(112 págs., R$ 34,90)
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