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Em torno do pioneirismo de Os Miseráveis

Por BRITO BROCA
Atualização:

Embora só em 1862, Victor Hugo, no exílio, viesse a publicar "Os Miseráveis", foi a 30 de junho de 1861 que ele terminou de escrevê-lo. Julgamos, pois, oportuno, neste momento, um comentário a respeito dessa obra tão típica da ficção romântica. Acresce a circunstância de José Camby (escritor cujo nome estamos vendo pela primeira vez) haver divulgado no número de 17 de junho último do "Figaro Littéraire" documentos inéditos sobre a conclusão do romance. A idéia de "Os Miseráveis" vinha trabalhando Victor Hugo desde 1820. Diz José Camby que nessa ocasião, visitando o presídio de Toulon, o escritor tomara várias notas, principalmente sôbre o forçado Pierre Maurin, do qual faria o tipo de Jean Valjean. Mas em "Choses Vues", admirável recolta de reportagens (...) já o romancista descreve uma visita a Conciergerie (...). Percorreu todos os recantos da prisão, inclusive as celas reservadas para os menores, sobre os quais nos dá impressões interessantíssimas. E essa página de reportagem, no melhor sentido da palavra, termina com um detalhe anedotico, que gostariamos de relembrar aqui. Ao deixar o presídio pela porta dos fundos, Victor Hugo defrontou-se com dois operários, que passavam por ali, no momento, e ouviu o comentário que foram fazendo: - "Esse, pelo menos, já conseguiu ir para a rua..."Em 1845, o escritor contratou com os editores parisienses Renduel e Gosselin um romance, cujo título seria "Misérias". Era o esboço de "Os Miseráveis". A obra se foi desenvolvendo lentamente, nela revertendo Victor Hugo muitas das experiências que ia acumulando. Também no primeiro volume de "Choses Vues" temos uma página sobre a origem de Fantine. Victor Hugo assistiu à prisão injusta de uma prostituta e revoltado dirigiu-se ao comissariado de polícia, onde (...) conseguiu libertar a mulher.Mas em 1848 sobrevém a revolução e, em 1851, com o golpe de Estado de Luís Napoleão, Victor Hugo é obrigado a exilar-se na Belgica. Só em 1870, como se sabe, com a queda de Napoleão III e a proclamação da República, retornaria ele à França, depois de vinte anos de exílio. Segundo depreendemos de alguns biografos, o escritor parecia comprazer-se com a situação em que permaneceu durante todo esse tempo, surgindo aos olhos da humanidade como uma vítima da tirania e constituindo, juntamente com a Polonia oprimida, dois grandes temas da poesia romântica. Na figura de Jean Valjean, teria ele posto assim um pouco de si mesmo, da condição de perseguido, em que se sentia no exílio.

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