Em posse, Bolsonaro diz que pode vetar indicações de Regina Duarte, apesar de 'carta branca'

Sérgio Camargo, escolhido para a Fundação Palmares, afirmou ao Broadcast Político que Regina pediu a sua exoneração, mas foi impedida por Bolsonaro e pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio

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Foto do author Julia Lindner
Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Julia Lindner e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - O discurso do presidente Jair Bolsonaro e da Secretária da Cultura, Regina Duarte, durante a cerimônia de posse da atriz, nesta quarta-feira, 4, foi marcado por declarações veladas sobre a autoridade que ela efetivamente terá para fazer nomeações na área. Na terça-feira, o jornalista Sérgio Camargo, escolhido para chefiar a Fundação Palmares, afirmou ao Broadcast Político que Regina pediu a sua exoneração, mas foi impedida por Bolsonaro e pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

Regina Duarte e o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de posse da atriz na Secretaria Especial da Cultura. Foto: Roberto Castro/ MTur

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Nesta quarta, ao assumir formalmente o cargo, Regina afirmou que aceitou o convite porque recebeu a sinalização de que teria "carta branca" para escolher a equipe e que a Secretaria teria "porteira fechada" para nomeações políticas. "Não vou esquecer, não, hein, presidente"?", brincou a atriz. 

Depois, Bolsonaro afirmou que "todos os ministros também receberam os ministérios com porteiras fechadas", mas que "logicamente, em alguns momentos, o presidente pode exercer poder de veto de alguns nomes". "Isso não é perseguir ninguém, é colocar os ministérios, as secretarias na direção que foi tomada pelo chefe do Executivo", disse o presidente.

Bolsonaro declarou, ainda, que Regina "merece mais" do que a secretaria, mas que a atriz vai passar por um "momento probatório", em uma sinalização que poderia eventualmente recriar o Ministério da Cultura.

"Já falei, prezada Regina Duarte, você merece mais do que isso. Você vai passar por um momento probatório e tenho certeza que a senhora passará. Você não está vendo um brucutu na sua frente, está vendo um amigo. E a grande ponte para chegar até ele está ao seu lado", afirmou o presidente a Regina, que estava sentada ao lado da primeira-dama, Michelle.

No dia da posse, Regina Duarte sofreu críticas de apoiadores do governo nas redes sociais por alterações na Secretaria da Cultura. A #ForaRegina alcançou o primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter brasileiro na manhã desta quarta. Os críticos da atriz a acusam de ser um "cavalo de Troia" por, entre outras coisas, tirar nomes ligados ao ideólogo Olavo de Carvalho.

Ausências

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Algumas ausências no evento desta quarta já demonstram rusgas na relação de Regina dentro da Secretaria, que é subordinada ao Ministério do Turismo, e as dificuldades para formar sua equipe. O jornalista Sérgio Camargo, escolhido para comandar a Fundação Palmares, antecipou na terça-feira, 3, ao Broadcast/Estadão que não participaria da posse porque Regina exigiu sua exoneração. Apesar disso, ele afirmou que "segue firme no cargo". 

"Minha exoneração foi exigida pela secretária Regina Duarte e vetada pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e pelo presidente Jair Bolsonaro. Sigo firme no cargo", disse Camargo. "Ela quer abrir diálogo com o movimento negro. Digo que é ingenuidade, para ser gentil", afirmou o jornalista. 

Camargo foi indicado pelo ex-secretário Roberto Alvim, demitido em 17 de janeiro após parafrasear o nazista Joseph Goebbels em discurso. Apesar da resistência de Regina, ele segue no cargo porque caiu nas graças do presidente Jair Bolsonaro após forte repercussão de declarações como "o Brasil tem um racismo nutella". 

O presidente da Fundação Palmares chegou a ser impedido pela Justiça de assumir o cargo, mas a decisão foi revertida após recurso do governo. O jornalista ainda aguarda a sua nomeação, mas esteve ontem no Palácio do Planalto. Nesta terça, Camargo esteve em evento no Planalto e tirou fotos com Bolsonaro.

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