Em Paraty, inglês diz que escrever é corriqueiro

O escritor inglês de origem pasquitanesa Hanif Kureishif lotou a primeira palestra deste sábado na Feira Literária Internacional de Paraty

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Por Agencia Estado
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O escritor inglês de origem pasquitanesa Hanif Kureishif fez o possível para demonstrar que o ato de escrever é corriqueiro, basta ter uma boa história para contar. "Passo horas sentado no sofá, assistindo futebol", comentou ele, responsável pela lotação completa da primeira palestra desse sábado na Feira Literária Internacional de Paraty, que termina no domingo. "É um perigo fetichizar o escritor, pois isso é tão fácil como fetichizar os políticos." Kureishi leu um trecho de seu mais recente romance, The Body, que será lançado no Brasil pela Companhia das Letras. O livro foge de sua linha inicial de produção, quando buscava ressaltar mais os aspectos étnicos, especialmente os de preconceito. Trata-se da história de um dramaturgo de meia-idade, que busca um novo corpo, mais jovem, para receber seu cérebro. Em entrevista ao Estado, ele confirmou que, entre outros motivos, o fato de se aproximar dos 50 anos (que completa no próximo ano) o torna mais sensível para assuntos relacionados ao comportamento. O escritor procurou não valorizar sua função, afirmando que qualquer pessoa pode contar uma história - basta apenas ter tempo para organizar os pensamentos. "Como temos medo de ficarmos sozinhos, contamos histórias uns aos outros. Com isso, conseguimos manter a cultura viva." Kureishi também procurou, de forma inteligente, demonstrar que seu aparente mau-humor é, na verdade, uma forma especial de revelar suas inquietações em relação ao mundo. Questionado por uma mulher na platéia como esse estado de espírito interfere em sua produção literária, o escritor, com seu tradicional tom monocórdio de falar, mas expressando uma boa dose de ironia, perguntou: "Por que? Por acaso você falou hoje com minha mulher?", arrancando gargalhadas da platéia. Enquanto Kureishi falava com o público, chegou a Paraty o escritor gaúcho Moacyr Scliar, o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras. "Eu não poderia jamais faltar a uma festa literária", afirmou ele, orgulhoso de sua eleição para a ABL, na última quinta-feira. "Foi um fato muito significativo para a cultura do Rio Grande do Sul." E arrematou com bom-humor: "Foi melhor que 200 churrascos."

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