Em novo disco, Rihanna aparenta ter resolvido problemas com Chris Brown

Os dois cantam juntos em 'Nobody's Business', faixa elegante de house com referências a Michael Jackson e smooth pop oitentista

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Por ROBERTO NASCIMENTO - O Estado de S.Paulo
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A distância entre vida e arte é curta na era da conexão. Discos ganham projeção por costurar face pública e narrativa pessoal; a sincronia almejada entre online e offline é turbinada em posts, tweets e álbuns feitos como espelhos de dramas pessoais. Talvez seja o único modo de humanizar a estética impessoal e robotizada do pop moderno, cuja interação com o público se dá, afinal, através de uma tela, e tem de competir com dezenas de outros estímulos simultâneos. De qualquer modo, protagonizar esta novela se tornou um malabarismo comum, e a manipulação do noticiário online é inseparável da estética pop contemporânea (vide o já clássico My Beautiful Dark Twisted Fantasy, em que Kanye West transforma seu colossal ego em monumento pop). Ou vide Man Down, em que Rihanna levou um caso pessoal de violência doméstica ao topo das paradas, no ano retrasado. O incidente data de 2009, quando o cantor de r&b, Chris Brown lhe espancou brutalmente. Fotos de Rihanna com a cara estropiada vazaram, os dois continuaram juntos e o romance tornou-se a narrativa central da carreira da cantora (Love the Way You Lie, seu popular dueto com Eminem, também se refere ao assunto, no videoclipe). Desde então, Riri e Chris brigam e fazem as pazes regularmente (it's complicated), e em Unapologetic, o excelente novo disco da cantora, agora lançado, o tom do romance é todo azul. Os dois cantam juntos em Nobody's Business, faixa elegante de house com referências a Michael Jackson e smooth pop oitentista. O título ("Não é da conta de ninguém") dá o recado à mídia, em paralelo a fotos do casal se abraçando, postadas por Rihanna no Instagram, na semana de lançamento. Há baladas românticas, como a solene Stay, em que Rihanna canta: "Curioso que você estava aos cacos, mas eu era quem precisava ser salva. Quando não vemos a luz, é difícil dizer qual dos dois está chegando ao fundo do poço". Ou como Love Without Tragedy, que pergunta "o que é o amor sem a tragédia?", ou a bela The Loveeeeee Song, sobre entrega e intimidade entre dois amantes. Mas, embora as faíscas do casal tenham sido responsáveis pelo marketing e pelos momentos mais tenros do disco, Unapologetic indica um rompimento com a fase ferida de Rihanna. O tom é, como diz o título, sem remorso, e a precisão do discurso de Rihanna é afiada. Trata-se de uma síntese do que a cantora ensaiou nos últimos dois anos, com Loud e Talk That Talk, discos que renderam uma impressionante coleção de number ones, mas não tinham, ao serem ouvidos por inteiro, a dinâmica envolvente de Unapologetic (coincidência, ou não, é o primeiro de Rihanna a alcançar o topo do Billboard). A cantora que surge em Unapologetic é destemida e, curiosamente, menos maquiada do que estamos acostumados a ouvir. Das 15 faixas, as primeiras pagam as contas do disco. O single Diamond, garante a atenção de fãs de bate-estaca popularesco, embora seja inferior a We Found Love, seu onipresente hit de pista do passado. Numb, dueto com Eminem, almeja algo como Love The Way You Lie parte 2. E Jump estraga uma finíssima construção com um refrão de dubstep (o gênero de graves grotescos que tanto agrada à molecada). Mas a determinação de Rihanna acaba por ser espelhada pelo vasto leque de referências que compõem o disco. Produções como a de Pour It Up e Phresh Out The Runway pintam um quadro contundente sobre batidas de hip-hop sulista. Há referências a Police, Michael Jackson, e confissões de tom religioso. Um álbum de diversos hits potenciais, e construção desconexa, que já é forte concorrente a disco pop do ano.

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