Em fase de crescimento

O grupo paulistano Garotas Suecas transforma em disco a experiência adquirida em três anos de estrada

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

Feras Míticas, o segundo disco do grupo paulistano de soul e afins Garotas Suecas, risca a linha entre o idealismo de garagem bem-sucedido - alcançado no primeiro disco, há três anos, com turnês e receptividade da imprensa no exterior - e a realidade de uma banda que teve de crescer para sustentar vidas adultas. Manchetes da Solidão e New Country, por exemplo, abrem o disco (disponível para download gratuito no site da banda) com a branda irreverência que chamou a atenção do New York Times para a leitura de funk e jovem guarda feita em Escaldante Banda, de 2010. Mas as canções são mais trabalhadas. As harmonias fogem do bê-á-bá blueseiro de outrora. O toque gospel que inflama o refrão de New Country parece dizer, "não somos mais moleques". O Garotas Suecas passou de fase. E se perdeu o glamour efêmero de grupo que deu certo no primeiro disco, afinou sua proposta, investiu em substância e volta mais encorpado em Feras Míticas - está menos 'garota' e mais Liv Ullman, diria o apreciador de beldades suecas. "O processo evoluiu. Antes nos baseávamos 'naquela guitarra do Sly (Stone), ou do Keith Richards', agora isso vem com mais naturalidade", explica o guitarrista Tomaz Paoliello, de 28 anos, em tom profissionalíssimo, de quem está acostumado a dar entrevistas. A tecladista e backing vocal Irina Neblina, de 27 anos, completa, dizendo que as influências foram bem internalizadas. O papo reto sobre música e business, com quatro dos seis integrantes do Garotas Suecas, que tem ainda Guilherme Saldanha, 29, nos vocais, Perdido no baixo e Nico Paoliello, 23, na bateria (além de Sérgio Sayeg, que reside atualmente em Nova York), desfaz as memórias de libertinos universitários guardadas pelo repórter que os viu pela primeira vez em um inferninho nova-iorquino, em 2009. De lá para cá, tornaram-se o grupo independente brasileiro mais conhecido depois do Cansei de Ser Sexy, tiveram de encarar trabalhos paralelos enquanto não estavam na estrada, terminaram faculdades e começaram relacionamentos sérios. Enfim, amadureceram conceitos sobre identidade, público-alvo e o volátil business do rock independente contemporâneo. "Por muito tempo circulamos dentro do nicho de rock alternativo, mas a partir do momento que começaram a ligar o nosso som com a coisa da brasilidade, atingimos pessoas que certamente não estariam no circuito do rock", conta Tomaz, ao refletir sobre como a experiência em festivais de world music, com artistas africanos, transformou sua ideia sobre o público e as possibilidades da banda. Feras Míticas busca mudar a imagem de "bandinha retrô", que o apanhado de referências sessentistas do primeiro disco deu à banda. Trata-se de um olhar mais lapidado sobre o mesmo tema, alcançado com a ajuda do produtor inglês Nick Graham-Smith. O approach mais experiente traduz as levadas, melodias e acompanhamentos associados aos anos 60 de uma forma mais direta, sem máscaras, assumindo uma sonoridade vintage com mais personalidade do que no trabalho de estreia. A cópia física de Feras Míticas será lançada no Brasil em setembro, em um show ainda a ser confirmado, mas o grupo fará apresentações com músicas novas na próxima segunda-feira, no Sesc Carmo, e no show de lançamento, previsto para o Auditório Ibirapuera, em setembro. O plano para 2014 é lançar o disco internacionalmente, pelo selo espanhol Vamp Soul, que acolheu Escaldante Banda, em 2010, depois de ter conhecido o Garotas no festival South by Southwest, no Texas. "Viagens e críticas ajudam muito. Tem essa coisa de as pessoas ficarem de olho nos artistas brasileiros que estão fazendo sucesso lá fora", explica Irina. Agora, lucrando com as turnês, podem fazer o inverso e começar pelo Brasil.

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