Em entrevista exclusiva ao 'Estado', John Neschling rebate críticas à sua gestão

Maestro fala pela primeira vez sobre polêmicas e diz que 'é preciso mudar'

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Por João Luiz Sampaio
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A direção da Fundação Teatro Municipal comunicou ontem aos integrantes da Sinfônica Municipal planos de mudança nos quadros da orquestra. Ao final deste ano, nove dos 112 músicos não terão seus contratos renovados, ou, no caso dos concursados, serão realocados dentro da Prefeitura.A mudança faz parte de um processo mais amplo de reestruturação iniciado pela direção. Após o cancelamento, há duas semanas, da montagem de O Ouro do Reno, que será apresentada em versão de concerto, vazou para a imprensa na semana passada o plano de união do Coral Lírico Municipal com o Coral Paulistano. O Paulistano foi fundado em 1936 por Mário de Andrade com o objetivo de fomentar a execução de música brasileira. Sua união com o Coral Lírico tem sido alvo de críticas nas redes sociais, feitas entre outros por antigos diretores do grupo, que acusam a direção do Municipal de descaso com a produção nacional. Um abaixo-assinado virtual, pedindo a manutenção do Paulistano como grupo independente, foi criado na segunda-feira e, até o início da noite de ontem, contava com mais de 2 mil assinaturas.Em meio a tudo isso, o Municipal pediu à prefeitura a instauração de uma sindicância interna que investigasse a suspeita de sabotagem nas óperas Aida e Don Giovanni - uma história que levou a polícia ao teatro e envolveu uma série de perfis falsos no Facebook, que lideram desde fevereiro o coro de críticas à gestão de John Neschling como diretor artístico.Em entrevista exclusiva ao Estado, Neschling, que ainda não havia se pronunciado sobre essas questões, defende as medidas tomadas até agora e questiona críticas feitas sem "cara e sem fundamento". Sobre o Coral Paulistano, afirma que há muito tempo ele não tem desempenhado o papel imaginado por Mário de Andrade - e que a vida musical não pode estar presa a historicismos simplistas, contra os quais brigou o próprio escritor. "Não se trata de uma decisão autocrática da minha parte, o que resolvemos foi estudar a possibilidade de união, que precisa ser aprovada pelo conselho deliberativo da fundação."O mesmo procedimento, diz o maestro, deu-se com a decisão sobre a orquestra. "Chamei todos os chefes de naipe e, depois, seus integrantes. Juntos decidimos se havia ou não elementos que deveriam ser substituídos. A orquestra está assumindo a responsabilidade sobre o seu futuro."Sobre o coro de descontentes, é contundente: "Para fazer do Municipal um teatro moderno, temos que enfrentar o status quo que existe há cem, 50, 25 anos. É algo entranhado, e qualquer mudança vai provocar reação de quem estava acomodado e preferia deixar tudo do jeito que estava".

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