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Em Cuba

Obama in Habana, quem diria? De acordo com o Fox News, o programa de TV preferido da direita americana, o encontro de Obama e Castro foi a primeira vez em que um ditador comunista e sanguinário esteve com um líder americano. Até a visita do Obama, a relação mais próxima de um presidente americano com Cuba tinha sido o que, alegadamente, Clinton fazia com a estagiária e charutos Montecristo. Kennedy não pôde ir a Cuba, mas mandou uma delegação, a força-tarefa que invadiu a ilha, mas não passou da Baía dos Porcos. Muitos outros americanos visitaram Cuba depois disso, a maioria infiltrada pela CIA – às vezes, dizem, com a ajuda da Máfia – para matar o Fidel, que continua vivo. Contam que, na entrevista à imprensa dada por Obama e Castro, houve um momento de confusão, quando tocaram no assunto dos presos políticos em Cuba, e não ficou claro se incluíam os presos sem julgamento na base americana em Guantánamo. Mas tudo acabou bem, e o Baraca foi, mais uma vez, histórico.

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Por Luis Fernando Verissimo
Atualização:

Acabamento. Vi uma foto da última manifestação gigante contra a Dilma em que aparece um cartaz com a frase “Cadeia é pouco, fuzilamento já”. Não eram necessárias mais do que duas pessoas para carregar o cartaz, que, talvez, só expressasse o sentimento ou o desejo delas, em meio a uma maioria que protestava em paz e não pedia sangue. Mas era notável o bom acabamento do cartaz. Seu conteúdo não era uma frase raivosa pichada numa faixa de pano para levar na passeata. Era um cartaz bem pensado, executado com esmero, em duas cores, coisa de profis. Me lembrei da época da eleição do Collor em que eu recebia cartas anônimas de pessoas descontentes com minha opinião sobre o candidato. E o que mais me impressionava não era a ameaça do que fariam comigo e com meus filhos, era a qualidade das cartas. Bem escritas, em bom papel, sem um erro gramatical que denunciasse um autor energúmeno, até inspiradas na descrição da variedade do que fariam conosco. E, mais assustador do que os castigos anunciados, para mim, era aquele acabamento caprichado das cartas. Uma pessoa letrada, com uma noção de estilo literário e layout gráfico, pensara no que iria escrever, escolhera as barbaridades com que nos intimidariam, selecionara criteriosamente um envelope fino – e, dentro do envelope, vinha puro ódio. Ingenuidade minha, a de pensar que o bom gosto previne o instinto assassino, ou que pessoas civilizadas são imunes ao ódio.

Mais assustador do que o bom acabamento, claro, é pensar que o que dizia no cartaz era a vontade de mais do que as duas pessoas que o carregavam.

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