E se Oliver Stone for a versão ficcional de Michael Moore? No caso de Wal Street 2 - Money Never Sleeps, é. O filme ficcionaliza Capitalismo - Uma História de Amor. É sobre o poder corruptor do dinheiro que nunca dorme, sobre predadores que brincam com as economias (e os destinos) dos outros pelo prazer do jogo. É sobre família. Gordon Gekko, 22 anos depois do primeiro filme, passou oito anos na cadeia, da qual saiu disposto a retomar seu lugar no mundo das finanças. Num mundo que perdeu o sentido da ética - o capitalista decente, pois existem, ou melhor existiam, mata-se logo no começo.Era o mentor de Shia Lebeouf, que, por coincidência, é o par da filha de Gekko, aliás, Michael Douglas. A garota é interpretada por Carey Mulligan e na ausência de Frank Langella, o suicida, encarna o centro moral de O Dinheiro Nunca Dorme. O pai engana o genro e a filha, mas tem direito a uma segunda chance. O grande vilão de toda essa história de dinheiro é Josh Brolin que, não por acaso, interpretava o ex-presidente em W, a cinebiografia de George W. Bush, pelo próprio Stone.O filme é bom - Michael Douglas é ótimo, mas Frank Langella é melhor do que ele -, mas terá críticos para contestá-lo, dizendo que a proximidade de Stone de Hugo Chávez, Evo Morales e Raúl Castro - todos personagens de seu documentário em processo, South of the Border -, está comprometendo sua visão de mundo (e do cinema). Wall Street 2 está passando fora de concurso aqui em Cannes. Curiosamente, o dinheiro também nunca dorme no filme coreano da competição, The Housemaid, de IM Sangsoo. É o remake de outra produção coreana dos anos 1960.Uma garota vai trabalhar na casa de um bilionário. De novo, a família. O pai é um dândi que toca Beethoven com a mesma disposição com que faz sexo - são suas "diversões". Ele seduz a empregada. Ela engravida. A sogra e sua mulher grávida são duas pestes que vão forçar a garota a abortar, ajudadas pela governanta. Há uma menina, que seria mais ou menos Carey Mulligan. O centro da gentileza na casa. A "housemaid" vai se vingar justamente por meio dela. O filme foi visto por críticos brasileiros como uma telenovela. Em qual canal? The Housemaid tem mais terror do que Thirst, o coreano do ano passado. Contra toda essa barbárie disfarçada de civilização mais nos valem as curvas de Sônia Braga. Vestida de vermelho, ela "baixou" com Hector Babenco na sessão de O Beijo da Mulher Aranha, em Cannes Classics. A atuação de William Hurt continua sendo o forte do filme, mas Sônia renasceu na Croisette, onde já brilhou, no passado, além do filme de Babenco, no de Robert Redford, ... em Milagro.