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"Em Busca do Tempo Perdido" ganha versão HQ

Obra de Marcel Proust chega aos quadrinhos em adaptação bem recebida pela crítica francesa, de autoria do publicitário Stéphane Heuet

Por Agencia Estado
Atualização:

Os críticos franceses armaram-se de todas as pedras ao alcance da mão quando foi anunciado que o publicitário Stéphane Heuet lançaria uma versão em quadrinhos de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (1871-1922). Era mexer em um vespeiro, pois se trata de uma das mais extraordinárias obras literárias de todos os tempos - em sete volumes, como em uma sinfonia, Proust retratou a sociedade francesa com precisas observações da realidade, revelando o mais íntimo do mundo psicológico. Como traduzir tamanho trabalho para o mundo dos quadrinhos?, questionavam os críticos, que só se acalmaram quando Heuet lançou No Caminho de Swann: Combray, o primeiro volume que é lançado agora no Brasil pela Jorge Zahar Editor (76 páginas, R$ 39). "Eu temia que a Associação dos Amigos de Marcel Proust e o Instituto Internacional Marcel Proust me condenassem ao fogo eterno", comenta Heuet em entrevista, por e-mail, ao Estado. "Principalmente porque, antes de começar o trabalho, eu achava a obra de Proust muito entediante." Membro da marinha francesa antes de assumir a direção de arte de diversas agências de publicidade, Stéphane Heuet conta que não tinha interesse em se tornar autor de histórias em quadrinhos, muito menos em adaptar Em Busca do Tempo Perdido. Foi a releitura da obra de Proust que o deixou fascinado. "A primeira vez que li, era marinheiro, estava com 18 anos e, como meu tornozelo estava imobilizado, comecei a matar o tempo com o primeiro volume", lembra. "Não passei da vigésima página: os sentimentos do autor me exasperavam, eu não sabia o que ele queria dizer e, como buscava uma leitura com mais ação, deixei o livro de lado." Passados 15 anos, sua mulher, uma entusiasta de Proust, o obrigou a uma nova tentativa. Embora contrariado, ele aceitou com a intenção de arrumar argumentos que provassem como o texto de Proust envelhecera e perdera o vigor. "Mas agora eu era um homem mais maduro e, para se encontrar em um livro, é preciso ter vivido um tempo razoável", comenta. "Fiquei fascinado ao descobrir que Proust exprimia claramente o que eu sentia, seja diante de uma folha de árvore, seja diante da morte de um ente querido." Ao mesmo tempo em que reavaliou a importância da obra de Marcel Proust, Heuet descobria também a enorme visualidade de Em Busca do Tempo Perdido. "Eu imaginei as cenas que remontavam à sua memória, cenas que ainda fascinam leitores pelo mundo, mesmo passados tantos anos", conta ao Estado. O marinheiro que bocejara ao ler sobre o declínio da nobreza e a ascensão da burguesia rica transformara-se em um ávido curioso pelos escritos de Proust - Heuet iniciou um detalhado processo de pesquisa, buscando descobrir os objetos, as obras de arte citadas e os lugares que inspiraram o escritor, especialmente os que não existem mais. "Decidi trazer toda essa informação para o mundo dos quadrinhos quando me lembrei de uma aventura do Tintin, Sceptre d?Ottokar, no qual seu autor, Hergé, criou uma pequena personagem imaginária por meio da qual ele, à sua maneira, trata do mundo à sua volta", diz Heuet, que consumiu três anos e meio na confecção do primeiro volume, bem recebido tanto pelo crítico do Le Monde ("Uma notável introdução à leitura de Proust") como pelo do Libération ("Esse Combray tem tudo para surpreender os proustianos").

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