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Em ´Anônimos´, o palco muda em página de quadrinhos

Linguagem de Beth Lopes é atração de peça que estréia no Viga Espaço Cênico

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Por Redação
Atualização:

Beth Lopes está de volta à cena. Não que estivesse ausente, mas a estréia neste sábado, 30, no Viga Espaço Cênico para o público de Anônimos propicia ao público um reencontro com uma linguagem muito própria dessa diretora: quadrinhos no palco. A julgar pelo ensaio, o espectador, em alguns momentos, chega a ter a sensação de ver imagens de um desses gibis de traços contemporâneos - movimentos fragmentados em desenhos que mais sugerem do que narram. Como são imagens animadas, remetem também aos filmes ‘noir’: cigarrilhas, fumaça, olhares de esguelha, detetives de capa e chapéu, atmosfera de mistério. Um hotel, ou a sugestão de um, é o ambiente onde se desenrola a trama escrita por Leonardo Faria, que também integra o elenco de cinco atores do grupo que tem o sugestivo nome de Cia. de Teatro em Quadrinhos. "Como sempre, partimos de um tema que desejávamos explorar", diz Beth Lopes em conversa na platéia do Viga, pouco antes do início do ensaio. "Desta vez, o tema era o sentimento de lugar, comum a todo ser humano; lugar num sentido amplo, de identidade, de pertencer ou não a um lugar." Sejam refugiados de zonas de conflito, sejam pessoas buscando atravessar fronteiras por uma vida melhor, o tráfego - e também o tráfico - de clandestinos hoje é um grave problema mundial. E dá o tom desse hotel, volta e meia bombardeado, no qual transitam desde curdos, judeus a dondocas ricas e fúteis. "Esse hotel é uma metáfora que serve para detonar a reflexão sobre qual o é ‘lugar’ dessas pessoas, e de cada um de nós. Afinal, é longe do que consideramos o ‘nosso’ lugar que melhor compreendemos qual é esse lugar." Nem tudo é sugestão ou abstração no enfoque do tema. A trama é conduzida por um personagem, de cujo nome só conhecemos a inicial K, que recebe em sua secretária eletrônica recados para um outro K, um detetive. Resolve então ele próprio assumir a missão que era do outro e, mais ainda, tentar descobrir quem ele é; na verdade, um duplo. Há espaço para humor, como o telefone vermelho, desses antigos, de disco, que surpreende ao ‘surgir’ em cena como se fosse um celular, ou ainda através dos comentário das ‘garotas’ na piscina do hotel. Fundamentais para a ampliar a atmosfera de mistério e humor negro, a trilha mais que pertinente de Marcelo Pellegrini e a iluminação de Maria Druck. Anônimos. 70 min. 14 anos. Viga Espaço Cênico (74 lug.). Rua Capote Valente, 1.323, Pinheiros, tel. 3801-1843. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 19 h. Ingressos R$ 20. Até 19/8

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