Elza Soares faz um dos melhores shows da Virada

No Municipal, cantora relembrou músicas do disco ‘A Bossa Negra’ com arranjos inovadores

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Por Redação
Atualização:

Tudo conspirava contra Elza Soares e seu show na Virada Cultural, agendado para 11h30 de ontem. Ela estava resfriada, os atrasos de mais de 30 minutos nas apresentações do Teatro Municipal estavam institucionalizados e os artistas que haviam estado naquele palco durante o evento tiveram o som de seus microfones equalizados enquanto cantavam. A intérprete entrou no palco às 11h33, escorada por dois homens que a auxiliavam na locomoção. E com a plateia aplaudindo de pé.

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A ovação do público também se repetiu no fim, porque, contra todas as adversidades, Elza fez o melhor show do Municipal na edição 2014 da Virada. A cantora releu o repertório do disco A Bossa Negra, de 1961, com charme, suingue e sem saudosismo. Em vez dos arranjos que transitam entre a gafieira e o jazz, ela preferiu revisitar tais músicas com clima funkeado.

Quando A Bossa Negra foi gravado, a voz de Elza tinha as características de divas do jazz. O diamante ainda estava sendo lapidado. Não à toa, Ronaldo Bôscoli, à época do departamento de publicidade da gravadora Odeon, pediu que ela fizesse “pose de Sarah Vaughan” na capa. “Era bunda para trás e biquinho para a frente”, relembrou a cantora, durante show.

Mas Elza já é Elza há muito tempo. E injetou sua própria musicalidade em um repertório antigo, renovando-o. O show seguiu a ordem original das faixas de A Bossa Negra, abrindo com Tenha Pena de Mim, fazendo vocalises à Louis Armstrong. Se ela não tivesse dito que estava resfriada, o público ficaria sem saber. Em Boato, imitou Dalva de Oliveira, Miltinho e Alaíde Costa, do mesmo jeito da gravação original.

Elza canta Cadeira Vazia com a mesma garra e sentimento de sua gravação de 1961. Em O Samba Está Com Tudo, tropeça na letra, mas mantém o fôlego do samba. Também deu espaço aos músicos, fazendo improvisos com guitarra, trombone e pandeiros. No bis, cantou o porta-estandarte Se Acaso Você Chegasse em português e numa bizarra versão em inglês, falando de Copacabana e Corcovado. Ao final, homenageou o amigo Jair Rodrigues com uma versão de Deixa Isso Pra Lá.

O ponto negativo não diz respeito a Elza, e sim à organização dos shows do Municipal. Enquanto a cantora interpretava Marambaia, quarta música do roteiro, ainda havia gente entrando no teatro e ocupando frisas, quase disputando lugares à tapa. O público não merecia. Nem a “Cantora do Milênio”.

As três primeiras atrações do Municipal foram prejudicadas pelos problemas no som. Durante o show de Célia com Arthur Verocai, que abriu a programação do teatro, o microfone da cantora estava inaudível. Após a quinta música, o público não aguentou. “Mais voz”, disse um homem. Célia pediu desculpas à plateia, afirmando que o ensaio de uma ópera atrasou a passagem de som e sua apresentação.

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Em Rio de Luar, que abriu o show de Tetê Espíndola com os irmãos Alzira E, Geraldo e Celito, o microfone de Tetê também estava baixo. Após a cantora fazer um sinal para o técnico de som, o problema foi sanado. Na sequência, Ednardo também suou para ser ouvido em Carneiro, com a qual iniciou sua apresentação.

 

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