Elis Regina: É, só tinha de ser com vocês, havia de ser pra vocês, Andréia e Laila

Antes de tudo, acho necessário agradecer a todas as atrizes que por medo, falta de empatia ou qualquer outra razão pessoal – todas respeitáveis – recusaram o papel de Elis, tanto no musical quanto no cinema. Hoje, está claro terem aberto o caminho para as melhores opções possíveis: Laila Garin e Andréia Horta. Curiosamente, mulheres muito diferentes entre si.

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Por João Marcelo Bôscoli
Atualização:

Em comum, o fato de serem talentosas, cheias de personalidade e coragem para desmistificar esse tabu. Foram as Chiquinhas Gonzagas, as Abre-Alas da Elis.

Agora, liberou geral. E eu estou muito feliz com isso.

A cantora Elis Regina. Foto: Acervo Estadão

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Sempre vi Elis como uma referência, um metro, uma luz guia. Algo para inspirar e nunca reprimir ou inibir. Basta ver qualquer entrevista sua – a última concedida à TV Cultura, por exemplo –, e perceber seu senso de colocação. Quando perguntaram a ela sobre a então novíssima Vanguarda Paulistana, se pretendia gravar seus compositores, ela respondeu que talvez sua presença pudesse diluí-los e isso a preocupava.

Admiro muito a teoria de Jung na qual ele diz ser o artista uma síntese de aptidões contraditórias. Por um lado, é uma “pessoa comum”, com apetites, desejos, frustrações, contas para pagar. Por outro, é uma pessoa em um sentido maior: uma “pessoa coletiva”. Aquela que capta e dá forma ao inconsciente da raça humana e o devolve sob a forma de uma obra de arte. E a realização dessa tarefa mobiliza uma grande quantidade de energia.

É como se fossem dotadas de um certo capital de energia ao nascer e o lado que precisa realizar essa tarefa sobre-humana tentasse tomás-la integralmente para si.

Nada poderia impedir a execução de sua missão – muito menos o lado humano. Este é visto quase como um erro, uma limitação do artista.

Se Jung conhecesse Elis, reformularia sua tese. Ela tirava muita energia das tarefas domésticas cotidianas.

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Depois de Como Nossos Pais se transformar na música mais escolhida do Brasil entre calouros de música, Andréia Horta e Laila Garin, quem sabe?, tenham inaugurado algo similar no campo da dramaturgia.

Só tinha de ser com vocês. Muito obrigado.* JOÃO MARCELO BÔSCOLI É PRODUTOR MUSICAL E FILHO DE ELIS REGINA

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