O elevador não só não subia como sua porta não se abria. E não só a porta não se abria como a luz no interior do elevador se apagou. Mesmo se quiséssemos acionar um dos botões do painel, não o enxergaríamos. Éramos seis pessoas presas num pequeno espaço, cada uma pensando no pior que poderia acontecer. Não conseguiriam abrir a porta pelo lado de fora. Ficaríamos ali horas, talvez dias, no escuro, apertados. Ninguém poderia sentar-se no chão do elevador sem roubar espaço de outro. Se alguém desmaiasse, teria que ficar desmaiado em pé. Alguém fatalmente sugeriria maneiras de se passar o tempo até que viesse o socorro. Poderíamos cantar. Contar anedotas. Cada um contar a história da sua vida. Ou talvez fosse melhor ficar em silêncio, para poupar oxigênio. Por onde entraria ar no elevador? E se não entrasse? Por quando tempo aguentaríamos até recorrer ao canibalismo?
Imaginei uma voz soturna no meio da escuridão dizendo:
– Um de nós é o culpado.
– O quê?
– O elevador se recusou a carregar um de nós.
Eu tinha chamado o elevador de mentiroso em pensamento. Seria eu o culpado?
– Como “se recusou a carregar”? – perguntaria alguém.
– Os elevadores não carregam mais qualquer um. Escolhem quem vão carregar. E a rebelião das máquinas. Elas estão tomando conta. Os celulares já aprisionaram a mente humana. Ninguém mais se comunica a não ser por celulares, que vivem falhando e nos levarão à loucura. Não demora, os eletrodomésticos atacarão em massa. Elevadores que escolhem quem carregar não parece tão absurdo em meio a esta derrocada final. Morreremos todos porque o elevador implicou com um só. Morreremos todos!
No fim, o incidente levou apenas alguns minutos. Voltou a luz do elevador e a porta foi aberta por fora. O grupo de seis foi dividido em dois de três e o elevador obedeceu a todos os comandos sem problema, e subiu humildemente.
Ou talvez estivesse apenas disfarçando...
Folia. A posse do Zuenir na Academia Brasileira de Letras foi uma espécie de farra afetiva. A quantidade de gente nos salões da Academia, entre amigos e admiradores, deu a dimensão da folia. O rapaz merece.
Bonito. É bonito ver o povo na rua protestando, criticando e se manifestando livremente. Mais bonito do que isso, só eleições.